sexta-feira, 19 de março de 2021

UM PEQUENO TRABALHO A MAIS

 

         Porventura via alguém precisando de dinheiro, sequioso por suas frentes de pedinte, e que pedia mais e mais, nada que desse realmente conta, o dinheiro de quem possui, ao que não possui sequer algum desfrute o dinheiro que não há… Na certa seria mais confortável pedir, mas o repertório do embuste cansa, mas se cansa por demais, posto não encontrar mais aqueles que já davam o pago, sem que precisasse trabalhar em algo. Justo que o trabalho desse, mas o tempo em trabalho não assentia com os outros compromissos do pedir.
        Um dia, precisava o cidadão de um dinheiro: armou-se de uma faca e retirou o mato da calçada de outro cidadão, em casa própria, bem entendendo. E, nessa casa ficou por quarenta minutos em trabalho e conseguiu um pago sem muito esforço. De outra vez trouxe o veneno para secar as plantas, com seu próprio meio e ferramentas, e viu que o esforço valia e valeu. Desse maior que valeu o seu meio vieram algumas demandas outras e capitaneava seu próprio trabalho: algum que fosse, um pequeno trabalho a mais. Outras classes demandaram, gente rica e gente mais de uma burguesia algo capenga, mas com algum valor…
Transigia com seu próprio controle, seu espaço-tempo. E foi pegando o fio da meada, começou a vislumbrar futuro aos seus filhos, começou a não faltar o leite e o pão: pegou gosto pela coisa. Tinha trabalho, tinha seus bicos, partia às suas missões, não perdia muito de seu tempo precioso. Seu tempo virava joia, e não precisava mais mendigar, posto comprava suas ferramentas, conseguia finalmente seus meios de vida.
          Outro que lhe vira o procurava, bom trabalho que fazia em todas as suas frentes possíveis. Uma torneira, uma roça, um jardim, uma limpeza a caráter! Seguiu seus dias e, em um dos dias criava uma equipe de três, chefiava, procedia. Comprava uma moto em certo dia, como efetivamente comprara. Estava com motores, e desses motores também aprendia. Partir para a latoaria, mecânica e suas mais rebuscadas outras ferramentas… Prosseguia e vencia, a mais um trabalho em seu afã de aprender. Tinha meio expediente de rendimento quando entrou para fazer curso de mecânica. Aprendeu com as máquinas e em suas partes teóricas. Consagrou-se mecânico, rendia melhor o seu tempo, trabalhou com patrão e por horas independentes, conseguindo realizar bom trabalho, sempre, um trabalho a mais. Nesse ínterim, lia e compreendia as letras, aprendeu espanhol e falava sempre consigo mesmo, meio que pensando no idioma novo e suas conquistas. Passava os dias estudando e se deteve sobre a física e a matemática, o que o tornou ingresso na Universidade pública. Gostava disso, saber que não pagaria os estudos mas, com o dinheiro de seus expedientes, comprava seus livros, comparecia nas aulas e não tardou a formar-se. Seu nome era Antônio, o brasileiro. Fez seu mestrado, formou-se em mecânica, e não tardava a ir ao Chile, que lá daria suas aulas. Fez-se muito importante, mas não largava de seus passados, mesmo de pedinte que fosse.
A sua família agora passava bem e Adelaide não precisava mais trabalhar… Sua mulher e seus filhos prosseguiam, agora os seus filhos estudavam em boas escolas, e sua mulher começava a dedicar-se à arte da cerâmica.
          Possuíam todos esse amor pela vida, por uma vida de trabalho, de aprendizagem, do conhecimento cabal que une todas as gentes, à causa de estar em uma plataforma de ciência e progresso. E a paz os unia, por eles navegariam sempre nesse mesmo barco, nessa superfície de cristal, nesse indubitável pressuposto! Posto por vezes viam a outros que pediam, a dor era grande. Nem todos possuem as mesmas oportunidades mas, antes do caminho do prazer efêmero, talvez fosse importante se manter, ou tentar se manter com a chama do conhecimento, de algum trabalho a mais, grande ou pequeno, uma luz que se mantenha alumiada no pressuposto de se conseguir superar a grande batalha que é viver em um mundo que não oferece tudo a todos! Mas que, na verdade, abre suas frentes concretas a quem quiser aprender algo, nem que seja a viver melhor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário