Porventura via alguém precisando
de dinheiro, sequioso por suas frentes de pedinte, e que pedia mais e
mais, nada que desse realmente conta, o dinheiro de quem possui, ao
que não possui sequer algum desfrute o dinheiro que não há… Na
certa seria mais confortável pedir, mas o repertório do embuste
cansa, mas se cansa por demais, posto não encontrar mais aqueles que
já davam o pago, sem que precisasse trabalhar em algo. Justo que o
trabalho desse, mas o tempo em trabalho não assentia com os outros
compromissos do pedir.
Um dia, precisava o cidadão de um
dinheiro: armou-se de uma faca e retirou o mato da calçada de outro
cidadão, em casa própria, bem entendendo. E, nessa casa ficou por
quarenta minutos em trabalho e conseguiu um pago sem muito esforço.
De outra vez trouxe o veneno para secar as plantas, com seu próprio
meio e ferramentas, e viu que o esforço valia e valeu. Desse maior
que valeu o seu meio vieram algumas demandas outras e capitaneava seu
próprio trabalho: algum que fosse, um pequeno trabalho a mais.
Outras classes demandaram, gente rica e gente mais de uma burguesia
algo capenga, mas com algum valor… Transigia
com seu próprio controle, seu espaço-tempo. E foi pegando o fio da
meada, começou a vislumbrar futuro aos seus filhos, começou a não
faltar o leite e o pão: pegou gosto pela coisa. Tinha trabalho,
tinha seus bicos, partia às suas missões, não perdia muito de seu
tempo precioso. Seu tempo virava joia, e não precisava mais
mendigar, posto comprava suas ferramentas, conseguia finalmente seus
meios de vida.
Outro que lhe vira o procurava, bom trabalho que
fazia em todas as suas frentes possíveis. Uma torneira, uma roça,
um jardim, uma limpeza a caráter! Seguiu seus dias e, em um dos dias
criava uma equipe de três, chefiava, procedia. Comprava uma moto em
certo dia, como efetivamente comprara. Estava com motores, e desses
motores também aprendia. Partir para a latoaria, mecânica e suas
mais rebuscadas outras ferramentas… Prosseguia e vencia, a mais um
trabalho em seu afã de aprender. Tinha meio expediente de rendimento
quando entrou para fazer curso de mecânica. Aprendeu com as máquinas
e em suas partes teóricas. Consagrou-se mecânico, rendia melhor o
seu tempo, trabalhou com patrão e por horas independentes,
conseguindo realizar bom trabalho, sempre, um trabalho a mais. Nesse
ínterim, lia e compreendia as letras, aprendeu espanhol e falava
sempre consigo mesmo, meio que pensando no idioma novo e suas
conquistas. Passava os dias estudando e se deteve sobre a física e a
matemática, o que o tornou ingresso na Universidade pública.
Gostava disso, saber que não pagaria os estudos mas, com o dinheiro
de seus expedientes, comprava seus livros, comparecia nas aulas e não
tardou a formar-se. Seu nome era Antônio, o brasileiro. Fez seu
mestrado, formou-se em mecânica, e não tardava a ir ao Chile, que
lá daria suas aulas. Fez-se muito importante, mas não largava de
seus passados, mesmo de pedinte que fosse. A
sua família agora passava bem e Adelaide não precisava mais
trabalhar… Sua mulher e seus filhos prosseguiam, agora os seus
filhos estudavam em boas escolas, e sua mulher começava a dedicar-se
à arte da cerâmica.
Possuíam todos esse amor pela vida, por
uma vida de trabalho, de aprendizagem, do conhecimento cabal que une
todas as gentes, à causa de estar em uma plataforma de ciência e
progresso. E a paz os unia, por eles navegariam sempre nesse mesmo
barco, nessa superfície de cristal, nesse indubitável pressuposto!
Posto por vezes viam a outros que pediam, a dor era grande. Nem todos
possuem as mesmas oportunidades mas, antes do caminho do prazer
efêmero, talvez fosse importante se manter, ou tentar se manter com
a chama do conhecimento, de algum trabalho a mais, grande ou pequeno,
uma luz que se mantenha alumiada no pressuposto de se conseguir
superar a grande batalha que é viver em um mundo que não oferece
tudo a todos! Mas que, na verdade, abre suas frentes concretas a quem
quiser aprender algo, nem que seja a viver melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário