quarta-feira, 9 de novembro de 2016

UM FATO REFLEXO

            Sempre haveria algo a se dizer das caminhadas de Paulo Antônio. Talvez fossem sempre fatos consumados aos que o acompanhavam, pois que ele não deixava passar nada: do essencial ao particular, do que via e sentia, em sua percepção gigante, que por vezes o assoberbava, mas sempre a luz e seus diferenciais... Mas seu olhar por sobre a sua própria superfície era em uma vigília solitária que a muitos poderia parecer excêntrica, se devidamente externada. Mas que a expressão de alguns de seus atos era apenas o perscrutar-se naquilo de referências cabais a título de rever o natural das coisas. A materialidade de um som de cachorro, por exemplo, a luz da lua e das ruas no principiar das noites. O que era objetivo cabia mais à sua atenção, mas que o subjetivo ainda fizesse uma parte do onirismo, porquanto igualmente divagasse, como mola que o movesse nas madrugadas em que por vezes despertava, em um não ser que muitas vezes o assoberbava em longos e longos minutos, até se dar conta, como uma reflexão de um espelho, que o objetivo, a matéria lhe ocupava a mente na forma de conhecimentos... De pequenos reflexos, Paulo Antônio consagrava quase de modo alquímico o que não se previa tanto em uma mente dentro do espectro de abrangência da normalidade, mas no seu caso um cotidiano de rotina maravilhosamente amplo que suscitava certezas algo na infinita dúvida, esta o sol nascente de todos os dias, e aquelas – a princípio – frutos do nascimento do próprio astro, como fato de reflexo, e não da realidade ausente. Essa crítica do realismo se diria mais do que necessária em um panorama onde a fusão da própria realidade em seu reality show de ensaios casava-se nos tempos com a fantasia e explícita imaginação, tornadas praticamente reais nos seus apelos da computação em si, quando do entretenimento, quando do diálogo algo pulverizado por comportamento exposto, ou mesmo a alienação de fatias populacionais importantes para o sistema. Essa alienação era passível de atos reducionistas com relação a comportamentos, onde críticas sem nomes passavam a ser ignoradas. Talvez fosse isso tudo realmente factual, mas no pensar de Paulo Antônio a mesma e dura realidade por vezes tem abraçada sobre ela um véu ilusório, debruçado sintomaticamente nos tempos modernos do novo século, ao contemporâneo que passa por relativos e efêmeros sentires, enquanto a Natureza perde a razão humana e seu bom senso peculiar, porquanto raro, mui raro...
            As pegadas de Paulo Antônio podiam ser sentidas mesmo no mar, de onde provinham encontros nada furtivos, posto a anuência da atmosfera marinha constrói a fibra dos pescadores. Pegadas registradas com tecnologia, mas teria que abraçar sempre a competência de boas paisagens pois, para a existência nesses tempos era de se situar que havia o ser. Fora da imagética não haveria tanto do ser, e nesse destempero o conforto era justamente se sentir registrado, como algo de não se esquecer, pelo menos enquanto havia a imagem que sucedia a anterior, em um presente de eternidade, enquanto tripas de informações sem substância, mas anuentes a um ego em todas as classes que retinha essa preocupação, não desistindo dessa ferramenta de modal duvidoso a própria política, que deixava a rua apenas como frase de grupos reunidos e diálogos entrecortados na cidadania simples em novos conhecimentos pessoais. Algo da pegada de Paulo Antônio talvez fosse distinto, mas partia do pressuposto do coletivo mais animal e mineral do que propriamente humano. A apropriação indevida era de se sentir, a cada árvore em bairros necessária, cortada, ignorada, a predação para erguer, o erguer-se para derrubar os polens maravilhosos que significam as folhas, o verde, os matos, o mar, as águas. Apropriações indevidas, que sublocavam o viver das gentes à condição numérica, partindo da mesma lógica em que nossos gráficos de ego têm que estar associados com números ou cifras, produções ou resultados, popularidades ou afetos consentidos pelo comum nada comum, posto ser diferente seria improvável! Alguém saberia dizer o que falar-se de uma caminhada, mesmo em reality? O behaviorismo seria a única saída para o registro? Em tese, no reality, em outra no pensamento linguístico de frases curtas curtidas no cruzamento de bancos de dados? Talvez fosse necessário encampar empresas pessoais que lidassem com essas relações de poder, aqui, nos EUA, em qualquer lugar. No entanto, o que sabemos é que se filtra o que cada um cria em seu perfil, quais as suas preferências políticas ou não, qual a ingerência de cada particular ao seu contexto, para posteriormente criarem, no atual sistema neoliberal, ações sectárias, remontando a regimes fascistas de controle e supressão da liberdade do cidadão poder ser quem quiser na sociedade, estar com quem quiser, e falar com quem quiser, em nome de um coletivo ou não. Esse é um fato reflexo, onde a origem reside no poder equivocado da cosmética, que veste o lábio para ver onde borrou o batom.
            Enquanto não nos permitirmos a uma contestação progressiva, a um diálogo sincero sobre esses e tantos outros fatos importantes em nossas sociedades, nunca compreenderemos que não é através da força-pressão que conseguiremos algo, mas no embate de sabermos lidar com a guerra das informações que se deve dar através de pensamentos mais robustos, e práxis civilizatórias no modal urbano, como no aumento da consciência de cada um, regado na raiz da questão e na fortaleza de quem possui coragem para uma vereda que nem sempre possui estrelas...

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