Obviamente, a leitura mais aprofundada de Jung em seu “O Homem e Seus Símbolos” ou no livro “A Interpretação dos Sonhos” de Freud dará mais consistência e conhecimento a qualquer aluno que queira ingressar no universo tão vasto dos símbolos manifestos do sonho. Na visão da interpretação freudiana dos sonhos, os mesmos se dão na fase manifesta, quando a pessoa acorda e se lembra do sonho, se dispõe a anotar rapidamente em um papel, pois geralmente nos esquecemos logo depois dele, e leva ao analista para ser elaborado, através da análise simbólica, das contradições, da dramaticidade, para alcançar um significado mais concreto, no que vem a ser a questão da latência, a fase latente do sonho. O paciente tem que se lembrar ou ser induzido a se lembrar dos fragmentos do sonho, a associar coisas a ele, pois o significado muito difere da questão manifesta, no mais das vezes, em um trabalho onde a experiência do terapeuta muito contribui, em sua vivência enquanto profissional, da justa interpretação do sonho de per si. Há processos como a dramatização, condensação, o deslocamento, que são meios em que o paciente expressa de várias formas o que sonhou, no que o analista infere ter o material necessário para a elaboração da etapa da fase latente, ou seja, o significado do sonho, o que está no inconsciente do analisando, que pode vir de fases infantis, ou mesmo de impressões de um dia ou semana.
A abordagem junguiana já fala sobre arquétipos, símbolos que a humanidade carrega e tem em comum em cada indivíduo, ou seja, que certos sonhos possuem a simbologia comum não apenas em sociedades civilizadas, bem como naquelas primitivas, ou tribais. A cruz, por exemplo, seria um símbolo mais profundo e antigo do que apenas o que se encontra no mundo cristão, assim como outros arquétipos, apontando na necessidade de se ter a visão do sonho, os símbolos, as cores, sentimentos e vários elementos que formariam a matéria do sonho como um todo, no que se chamaria de Inconsciente Coletivo.
Muitas vezes o termo sonhar é empregado como algo de desejar, querer uma coisa: sonhar em ser rico, sonhar com uma vida amorosa, posto o sonho como “desejo” é sonhado também na vigília por muitos. Algumas pessoas projetam suas visões de mundo, suas metas em relação a algo ou alguém, usam de artifícios vários, muitas vezes se frustram redondamente, sofrem por vezes traumas, e fatalmente o resultado é que o recalque transporta material reprimido ao inconsciente. E, paradoxalmente, na forma de um sonho real, ou seja, aquele sonhado durante o sono, é que vão aparecer os ruídos que tanta neurose pode causar no homem ou na mulher, quando nas mãos de um analista, profissional indicado para tratar dessa mesma neurose causada por vários e vários fatores quaisquer… A pulsão sexual é um desses fatores, onde se contrapõe a pulsão de vida, ou seja, uma defesa do ego de se manter viva a espécie, quando muitas vezes o id se manifesta com desejos que porventura temos que reprimir, para nos mantermos vivos em sociedade. Lacan cita casos em que por vezes uma mulher independente financeiramente tem relações com um facínora, e nada faz para evitar, pois encontraria na pulsão de morte, outra vertente dos impulsos do id, um gozo, um risco que a satisfaz, um desejo de estar próxima da morte, ou “levitando” em torno do perigo. Dessa pulsão de morte, há a pulsão da vida, onde a mulher estaria mais satisfeita em estar com um homem íntegro, cordato e gentil, ao invés de um criminoso.
Viver um sonho na realidade é por vezes viver em uma ilusão sem tamanho, e trazer o onirismo na plataforma de uma vigília, onde muitas vezes se excede o aspecto da citada realidade para uma “viagem ruim”. A avidez com que certas pulsões se manifestam na sociedade contemporânea apenas expõem problemas que com o tempo vão se manifestar no divã de um analista, com seus recorrentes traumas individuais, não apensa no cerne de um grupo, uma coletividade, mas na vivência individual de cada ser humano. Quando o sonho se mistura com a realidade, quando o inconsciente brota de tal forma que o indivíduo passa a não ter controle sobre seus instintos mais básicos, o sonho passa a não ser mais propriamente o meio mais indicado para se ter um diagnóstico algo preciso do paciente, podendo a dar nos costados da medicina psiquiátrica a realidade dos problemas inerentes ao ser como um todo.
Jung pensava na arte como manifestação quase onírica de um paciente que necessitasse de atenção psicossocial, e na religião como necessidade atávica do ser, subentendendo-se a espiritualidade como um todo, e não necessariamente o dogma religioso. A partir da leitura dos textos de Jung, quiçá se tenha uma aproximação mais profunda do que vem a ser a Natureza dos símbolos na humanidade, como funciona a Psicologia Analítica junguiana e sua abordagem, posto na questão dos sonhos há fases da história, inclusive em passagens da Bíblia, em que muitos se fizeram do ato de sonhar um verdadeiro oráculo para profetizar passagens da vida, e prever coisas do futuro, dando-se de fato a veracidade de tais feitos.
No entanto, Freud se notabiliza historicamente por ser o primeiro a compreender cientificamente a importância dos sonhos no diagnóstico da mente humana, a desvendar segredos ocultos no inconsciente, e a mapear, através de sua interpretação e método, o universo da psique. Os estudiosos e teóricos que vieram depois ou concomitantemente em seus estudos apenas ampliaram os leques dessa descoberta extraordinária, como Jung, Lacan, Bion, entre outros… Por isso o sono é tão importante para a saúde mental de qualquer ser humano, pois faz com que sonhemos e externemos internamente a nossa psique e seu estado para que se faça passar qualquer ruído que pioraria alguma situação mental, porventura, na forma de se brotar do inconsciente desejos que antes eram reprimidos ou recalcados, em síntese, ou em um dos aspectos citados...
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