quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Primeiramente, toda Weltanschauung se caracteriza por uma “suposição fundamental”, e a da ciência também comporta uma, embora Freud não a mencione explicitamente: trata-se da crença na racionalidade do real, ou seja, na existência de leis que governam os fatos e de causas que os determinam segundo essas leis. Essa crença tem um corolário: em princípio, está ao alcance da inteligência humana descobrir tais causas e formular tais leis. Pouco importa se isso se deve a que o espírito humano é parte da realidade e pode, por esse motivo, se conectar ao restante dela (como pensava Espinosa, e, numa outra perspectiva, também Hegel), ou a que os fenômenos são uma construção das nossas categorias intelectuais a partir dos dados de percepção (à maneira de Kant): o conhecimento é possível porque a Natureza apresenta regularidades observáveis, cuja formulação em termos abstratos produz o enunciado das suas leis, e porque os fatos têm causas, ou seja, outros fatos em cuja ausência eles jamais se produzem, e em cuja presença − ceteris paribus, excluídas eventuais intercorrências – eles regularmente se produzem. O determinismo é, assim, o pressuposto oculto da Weltanschauung científica, como Einstein expressou numa bela metáfora: “O Senhor é sutil, mas não maldoso; Ele não joga dados com o Universo”. RENATO MEZAN.

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