Saíra do
café exatamente quando uma tropa militar passava pelo trevo adjacente. A
atmosfera estava meio com a cor opaca de um céu algo cinza, a praia sempre
estava ao alcance das pernas, era a vantagem de morar nessa imediação...
Chegando na orla, vi um conhecido escutando um velho rádio, estranhei que fosse
assim, que não era esses de celular, como se usa com os fones, era um homem bem
solitário, mas quase nunca comigo conversava. Mas de qualquer modo era um homem
que não se atinha a coisas afeitas a amizades, poucos amigos, amargo, era essa
a maneira que o tinha como ser extremamente refratário, partidário de golpes militares,
coisas afins, e possuía rancores profundos, como se a sua solidão fosse culpa
da sociedade ou muito de similares.
Eu
peguei de uma harmônica, me desloquei um pouco para outro nicho, meio que atrás
de uma castanheira, toquei antigas músicas, qual fraco repertório, não me
ensombrecia o fato de que alguém escutava, já tinha sido o tempo em que alguns
negros gostavam de me escutar tocando blues, mas isso eu não encontrava muito,
quiçá fossem as estações que passavam e sequer me apercebia tanto, não fora
pelas temperaturas dos dias. Aliás, não que fosse motes de libertação, mas o
fato de transigir para uma atitude de compartir uma harmônica assim de chofre,
onde não se esperaria, onde não se cobrava nada, era uma forma particular minha
de estar ao menos “falando” com as coisas que encontrava pela frente, até mesmo
as rochas, pungentes, presentes, tecendo as formas mais inusitadas, pois sempre
eram distintas, qual a montanha que Cézanne pintara incansavelmente, o monte
Santa Vitória, sempre com novas cores, nisso de lembrar apenas as épocas em que os
estudos de arte tanto ocupavam as minhas horas, e isso na realidade eu buscava
agora de outro modo, vendo as gentes, buscando viver os espaços tendo contato
mais próximo e concretamente com a Natureza.
Vieram
passantes naquela orla, mulheres com seus animais, seus cãezinhos, vieram
gentes de obra, os mesmos passantes que o destino talhava com cinzeis que eram
afeitos ao acaso por vezes, mas na mesma acepção, eu simplesmente não tinha
percepções maiores que não fossem os trilhos desses trens soturnos que vemos
passar, como testemunhamos às horas de um dia, e como, depois de um tempo,
depois de tragado mais um cigarro, agora cuidando mais as horas em que fumava,
pois estava reduzindo esse estranho vício... Era hora de retornar ao café,
nessa ida e vinda da vida, a se tomar mais um refrigerante zero, quem sabe, ou a água
mineral, que já sabia mais da rotina de meus dias quase transparentes sem os
mistérios que faziam parte do que via todas as vezes que compartia das orlas e
dos passantes do tempo.
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