quinta-feira, 12 de setembro de 2024
Antes de prosseguir, lembremos que essas três características são invariavelmente invocadas quando Freud fala da Filosofia. Também sobre a forma surpreendentemente superficial com que Freud costuma tratar da Filosofia. Que, na Conferência 35, é deste modo que ele a menciona, citando o famoso epigrama de Heine: “com seu gorro de dormir e com os farrapos do seu camisolão / ele remenda os buracos da estrutura do mundo”. É inegável a conotação pejorativa dessa visão, que em nada corresponde à Filosofia da época de Freud – pois são seus contemporâneos, entre outros, Wittgenstein, os membros do Círculo de Viena, os fenomenólogos como Husserl e o Heidegger de Ser e tempo, o pensador das formas simbólicas Ernest Cassirer... Desde Platão e Aristóteles, e mesmo no apogeu do Grande Racionalismo, para usar a expressão de Merleau-Ponty, os filósofos que criaram sistemas do mundo (Descartes, Espinosa, Leibniz, mais tarde Hegel e Schopenhauer, entre tantos) levaram em conta as dificuldades e objeções que se poderiam levantar contra eles: basta ler as “Respostas” de Descartes às “Objeções” contra suas Meditações de filosofia primeira, ou a correspondência de Espinosa, em que ele incansavelmente debate com seus críticos, para ver que a imagem proposta por Freud para a Filosofia é de uma superficialidade desconcertante. RENATO MEZAN.
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