sábado, 8 de abril de 2023

OS TRUQUES DE ADELINO


              Adelino e Vera viviam juntos há um bom tempo, e não possuíam muitos segredos, apesar de ambos os familiares não terem consentido muito a união... E Adelino, de qualquer modo faltava a Vera com a honestidade quando fingia não elogiar muito a sua companheira, quando em presença de Lucy, sua tia, severa quanto à mais dura necessidade. Na intimidade, Vera aceitava as explicações de Adelino, e fazia vista grossa. Às vezes pensava que o modo dele amá-la era simplista demais, e queria mais carinhos, ele transigia, e dizia para não criarem vínculos afetivos extremos, posto, explicava, todas as vezes em que muito se esparramara sobre uma mulher, no final apenas encontrara a cama desfeita, no dia seguinte de relações que porventura mereciam mais tempo!

              Certo dia, Vera explicara a ele, com certa dureza:

              - Adelino, você tem saídos por vezes à noitinha, sei que não se demora muito, mas se recusa a que eu lhe acompanhe, e isso me coloca dúvidas sobre o que você anda aprontando... Sei que aquela amizade com as gentes da narcóticos era bobagem, você me garantiu! Baste com qualquer coisa assim, se eu estiver mentindo... Você nem sabe, essa gente..

              Olhava para ele, e Adelino colocava as botas, olhava para os tornozelos dela, sua meias, era inverno, o vestido de Vera, e ele subia um pouco a mão...

              - Pare com isso, querido...

              Vera sabia que a vida dele não era para se ter a dimensão do sem segredos conjugais que não os tinham, mas essa ilusão fazia parte, para se ter a noção imediata do que seria um fato conjugal, no entendimento mais cabal da matéria. E era desse tipo de matéria a que ele por vezes se referia, esse entendimento, que estariam sempre juntos, e que ela tivesse nele depositada a confiança, pois os apoios eram necessários, mesmo porque não nutria ele por inimizades, mas também não evitava amizades na Lei, pelo contrário. Quanto aos dois, não eram melosos como os filmes de amor, por hora era o que tinham, um ao outro, ele era fiel, e ela sabia, mesmo que da parte dele nunca dela exigira, pois para ele, no fundo, por uma questão de história e de libertação da mulher, e outras bobagens, elas seriam mais frágeis nessa questão... Poucas vezes Adelino falava com gravidade:

              - Vera, a questão é que estão localizando um homem... Ele vem do Equador, está hospedado em um hotel no litoral de SP. Já tá feito, eu só investiguei, ele se apresentou, eu localizei as referências e a missão. Você tem que saber de uma coisa, eles sempre se apresentam quando a maldade que tem se torna incontrolável, e o ego, nessas salas se revela maior, e eles acham que estão resguardados, o mundo digital é preciso, querida, e o sistema é mais inteligente... Está rompida a missão do infeliz, foi desbaratado. São caminhos, minha cara... E sabe mais o que? Pelo menos por mais um mês nos beijaremos mais livremente. Beijou a boca de Vera e voltou a amarrar as botas.

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