Adelino e Vera viviam juntos há um bom tempo, e não possuíam
muitos segredos, apesar de ambos os familiares não terem consentido muito a
união... E Adelino, de qualquer modo faltava a Vera com a honestidade quando
fingia não elogiar muito a sua companheira, quando em presença de Lucy, sua
tia, severa quanto à mais dura necessidade. Na intimidade, Vera aceitava as
explicações de Adelino, e fazia vista grossa. Às vezes pensava que o modo dele
amá-la era simplista demais, e queria mais carinhos, ele transigia, e dizia
para não criarem vínculos afetivos extremos, posto, explicava, todas as vezes
em que muito se esparramara sobre uma mulher, no final apenas encontrara a cama
desfeita, no dia seguinte de relações que porventura mereciam mais tempo!
Certo dia, Vera explicara a ele,
com certa dureza:
- Adelino, você tem saídos por
vezes à noitinha, sei que não se demora muito, mas se recusa a que eu lhe
acompanhe, e isso me coloca dúvidas sobre o que você anda aprontando... Sei que
aquela amizade com as gentes da narcóticos era bobagem, você me garantiu! Baste
com qualquer coisa assim, se eu estiver mentindo... Você nem sabe, essa gente..
Olhava para ele, e Adelino
colocava as botas, olhava para os tornozelos dela, sua meias, era inverno, o
vestido de Vera, e ele subia um pouco a mão...
- Pare com isso, querido...
Vera sabia que a vida dele não era
para se ter a dimensão do sem segredos conjugais que não os tinham, mas essa
ilusão fazia parte, para se ter a noção imediata do que seria um fato conjugal,
no entendimento mais cabal da matéria. E era desse tipo de matéria a que ele
por vezes se referia, esse entendimento, que estariam sempre juntos, e que ela
tivesse nele depositada a confiança, pois os apoios eram necessários, mesmo
porque não nutria ele por inimizades, mas também não evitava amizades na Lei,
pelo contrário. Quanto aos dois, não eram melosos como os filmes de amor, por
hora era o que tinham, um ao outro, ele era fiel, e ela sabia, mesmo que da
parte dele nunca dela exigira, pois para ele, no fundo, por uma questão de
história e de libertação da mulher, e outras bobagens, elas seriam mais frágeis
nessa questão... Poucas vezes Adelino falava com gravidade:
- Vera, a questão é que estão
localizando um homem... Ele vem do Equador, está hospedado em um hotel no litoral
de SP. Já tá feito, eu só investiguei, ele se apresentou, eu localizei as
referências e a missão. Você tem que saber de uma coisa, eles sempre se
apresentam quando a maldade que tem se torna incontrolável, e o ego, nessas salas
se revela maior, e eles acham que estão resguardados, o mundo digital é preciso,
querida, e o sistema é mais inteligente... Está rompida a missão do infeliz,
foi desbaratado. São caminhos, minha cara... E sabe mais o que? Pelo menos por
mais um mês nos beijaremos mais livremente. Beijou a boca de Vera e voltou a amarrar
as botas.
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