sexta-feira, 28 de abril de 2023

A LATITUDE DO GESTO


              Fremir algo de sentimento pode parecer algo casuísta, se for levar ao termo de uma linguagem quase simplista, mas igualmente pode alcançar a vertente de um verbo que nos obscurece a razão, pois que não se encontra mui facilmente no uso dos costumes da atualidade, qual seria, não é o verbo odiar, este sim, francamente usado... Quando se pensa no gesto, para alguns, vem a ideia do código, sem o par por vezes equivalente, eis a questão! A posição em sincero denota o sentir-se e, por vezes, não se sabe exatamente por que cargas dágua, não podemos ou não temos a sensação de podermos esboçar – que seja – o simples sentimento de afeto, quiçá por razões políticas, ou coisas similares, mas isso por interveniência na maior parte das vezes quando levamos um termo de vida mais autêntica, quando esta destoa dos padrões sistêmicos esperados, o que glorifica o viés da desordem que nos imputa sermos agentes, a não ser que façamos nos valer de inteligência majorada e nos colocarmos a serviço, nem que seja de uma gleba, ou um núcleo existencial, ou mesmo uma família, uma rede de amigos, ou quiçá membros de um grupo qualquer, o que nos torna mais gregários, posto o ser humano não existe sem o ser coletivo, ao menos em dois, ou mais membros... O diálogo dos gestos sinceros subentende alguma intimidade, e talvez essa abertura social seja a modalidade causadora da solidão, quando por vezes nos doamos ou cedemo-nos afetivamente e o feed back nem sempre vem do mesmo modo. Talvez isso explique a estranha modalidade que une usuários de droga, como se porventura isso se tornasse um tipo de conivência com uma independência, ou protesto comportamental, um tipo de quase regra, um tipo de clube onde os membros sejam signatários de se entorpecer para pertencer a um grupo, assim como o álcool já faz parte do escopo social e do uso que se faz da sociabilidade e do convívio cultural do homem e da mulher, muitas vezes culminando em abusos trágicos. Quando se busca uma origem cultural nas coisas fica mais fácil perceber o que acontece com a falta do carinho, a defasagem de não se possuir mais ternura, e tanto o álcool como a coca não contribuem largamente para que isso aconteça, pois qualquer substância que nos tire a razão por vezes se torna a passagem mais curta para o descontrole, o vício destruidor, e o rompimento dos mesmos laços afetivos que tão enormemente os pares tentam construir a partir dessa imensa ilusão que é a adição a drogas e álcool, como motivação do gregário, do se construir, de se erguer algo, o que na verdade não possui alicerces perenes, a não ser a manutenção do hedonismo e da busca de resultados que por vezes culminam no ponto crítico do manuseio, comércio e crime decorrentes – na ponta – para se manter o consumo.

              Mas o gesto não é tão simplista quanto apenas as questões relativas ao surgimento dos grupamentos humanos, bons ou nocivos... Pode ter a ver um pouco com a arte e, mais uma vez, a cultura ponteia seus significados que elucidam questões sem a complexidade do que se argui sejam questões de um mundo contemporâneo, onde muitas vezes a juventude se coloca no meio do viés das comunicações, entre os displays, e muitos buscam um contato, e o mundo já dá provas disso, com a Natureza, com o mundo exterior, ainda crendo, dentro do contexto mais simples, em encontrar as gentes no mano a mano, fora da contextualização da informática, supondo ser mais humano o processo existencial da sociedade, tal qual tem se revelado, no surpreendente viés da ida e da volta, do progresso e do regresso, da máquina e da ingerência anímica e espiritual, do ventre e do amor, do gozo saudável fora da semântica da performance, isso devidamente esclarecido pelo fato de que a humanidade está em guerra, e eros e thanatos tecem sua luta diária, nos seus instintos criadores e destruidores, concomitantemente. E o teatro busca na cultura seus trejeitos mais saudáveis, recuperando a arte e colocando em contato principalmente a juventude com a modalidade algo de prática, de fazer a parte cenográfica, da maquiagem, do atuar do ator, da direção, como um modo de se aprender, assim como no cinema, um pouco menos sugestivo porquanto mais digital hoje, em suas modalidades produtivas, o fazer da arte de modo artesanal, o contato com os materiais, e a arte como ela é, sem necessariamente termos que levar a nossa vida eternamente com silogismos ou insights lógicos, o que nos sobrecarrega sobremodo, pois de sistemas o mundo já está plenamente repleto.

              No lado afetivo, redescobrimos no gesto a latitude de nosso corpo, como não uma máquina funcional feita de alavancas, ossos e músculos, mas algo que transcende esse espectro reducionista, posto não estamos no mundo para o combate, mas para amar e sermos amados, posto se não fora, a guerra seria a única saída contra a guerra, e nisso a vertente da intelectualidade mesma a respeito do autoconhecimento nos revela que somos mais do que carne, e que o gesto do toque fraternal pode ser mais construtivo – e efetivamente é – do que um golpe de caratê profissional.

              Para tomarmos ciência da latitude do gesto temos que praticar continuamente, tentar aprender as histórias com os mais velhos, traçar e planejar o nosso destino, não se intoxicar se possível, nos resguardar e andar mais seguros em boas companhias, e estudar bastante, lidar com a leitura e a razão como se o aprendizado fosse algo de um dinamismo escorreito e simples, a cada passo de nossas vidas, pois é escutando, buscando uma vida melhor que estaremos estruturando a reconstrução de nós mesmos, e será sempre em uma sociedade livre que estaremos em condições de estabelecer melhores vínculos com essa necessária sobriedade de caráter e consecução extática com o amor e suas profundas modalidades existenciais...

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