Começa com um personagem despertando
de um sono conturbado em pequeno pesadelo no principiar da aurora…
Ele acorda, seu braço está sem resposta, pois mais uma vez, em
virtude de um sonífero forte, dormiu em cima do membro. Não há
para quem ligar, e seu celular recebe estranhas mensagens, apesar de
não ser muito sofisticado, talvez em virtude desse mesmo fato. A
volta com o carro lhe facilita, mas o usa apenas em serviço, a não
ser para degustar um café nas entrelinhas dos esforços e,
particularmente naquele sábado não havia muito do que cria
encontrar… Talvez algum conforto lhe desse esperanças, mas para
ele não haveria a menor possibilidade disso se não pudesse
compartir. Escrever seria apenas para enviar cartas imaginárias, mas
neste dia gostaria de algo parecido com um retrato do que talvez
tivesse acontecido na noite em que dormira, naquele bairro
continental, pois dizia-se que verdadeiras guerras eram travadas à
noite, especialmente no Sul, onde o preconceito sempre fora maior, e
que este gera sempre conflitos. Justamente, pois quando um cidadão
mais pobre tem suas posturas de contestação de um mar de
desigualdades, este enfrenta acirrados rivais…
O roteiro se
perde um pouco, pois a complexidade em gerar um filme não acontecerá
assim, posto este trabalho possuir a pretensão de apenas ser
projetado enquanto leitura na criatividade de quem o lê. Pois bem,
digamos que o nosso personagem se chame Robertson. Vai à cozinha, como qualquer outra, mais antiga no entanto, de casa de mais de meio
século, com azulejos dispostos depois de reparos na parede, com
várias cores, do branco ao terra… Um estranho bairro de uma ilha
que dava suas costas de chumbo na linguagem de muitos domiciliados,
por vezes vindos de outras partes, muitos estrangeiros, igualmente,
com missões secretas ou totalmente abertas quando tinham a ilusão
de que o controle já haveria tomado conta. Não esqueçam, isso fala
o roteiro, pespontado com uma gota de realidade na sua forma, em que
seja de romantismo na maior parte, mas que este modesto autor não
sabe dizer sem o surrealismo que se torna presente para retratar um
mundo ou situações que tangenciam o absurdo… Robertson vira um
filme que dizia sobre a libertação sexual, e como as novas gerações
raspam pelos, e se quedava sorumbático, pois achava um absurdo
alguns terem barba e nada na genitália, mas não tinha a pretensão
de pormenores, pois talvez fosse sutileza, sinal dos tempos mais
modernos, em que sua companheira ainda era bem peluda, como ele, e
não seria tudo mais como apenas mais uma comédia de costumes. Justo
que amasse achar fontes escondidas dentro de matagais, literalmente,
em metáforas tão belas como a Natureza de seus amores. Ordenou a
cozinha, lavou os pratos de ontem, tirou a carne de sol da água,
tomou um leite, um pouco de pão ázimo com uma boa pasta de grão de
bico e gergelim, com o alho que costumava comer todos os dias daquele
maio um pouco conturbado, como tivera sido desde o verão. Não se
consideravam dados os entretenimentos, pois Robertson… A ele, pouco
importava aquelas pessoas que levam toda uma existência em observar
a vida alheia, querer saber do que se passa com tudo e todos, achando
que prestam um grande serviço à humanidade, mas a Robertson isso
não passava de práticas antigas que o mundo carregaria consigo, em
meio agora de tantos mecanismos em que muitos se tornam dependentes
da eletrônica, talvez o pior vício da era moderna, pois o que se vê
em certos displays, muitas vezes, é uma grande e assustadora
alienação mental, posto nada a ver com a realidade mais objetiva.
Robertson achava tanta graça nisso tudo que via em suas alucinações
reais que os novos diabinhos já viriam com rabos de cabos USBs,
bastando o plugue!
Já vimos que este pequeno filme não roda
em sequência, e temos apenas um personagem. Imaginem que quem
escreve seja o outro personagem, pois a forma não importa mais tanto
como o conteúdo, e se isentamos a forma de sua função, teremos a
concepção da obra em aberto, em que há, em meio a isso tudo, um
que escreve e projeta, e outro que lê e, tomara Deus, conteste…
Mesmo porque quem não se remeter a um diálogo justo, mais aberto,
vai acabar não se expressando mais para despejar nas redes sociais
um ego que se torna código binário mais precioso ao sistema de
informações do que sonha a já tão rara em sincero filosofia, pois
nem tudo está escrito.
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