sábado, 10 de dezembro de 2022

A VIGÍLIA

 


           Uma noite insone, como uma questão não pronunciada, algo de se valer do nada, por vezes é substância requerida… No algo em que nos buscamos quase sempre, inconscientemente, nas vigílias mesmas de nossas próprias traduções. Em um olhar recriado no contemporâneo da vida, regem os rios de calcáreo em conceitos que por vezes empedram nossos pensamentos. Noite insone, ,esse quadrático não se permitir, quando se critica qualquer modus vivendi, uma palavra que seja, aliás, quão bela é uma conformação de uma letra, uma própria letra, que seja: o I. Pois a letra se torna algarismo, a frase podendo culminar em uma data jurídica, a remontar-se Roma e seus outros algarismos, no entanto sabemos de ante mão que o computador se transforma em massa encefálica depois de todos os seus números… A questão é saber de um toque terno em uma tela digital, e se isso vai fazer parte realmente do cotidiano das gentes. A qualquer dado mal ensaiado, um erro que seja, por vezes não dá para revisar o contexto de uma mensagem, por exemplo. O endereço IP, quando não volátil, fixa a exposição desmesurada quando convém.
           Nas noites insones algo se guarda para que saibamos nos ligar a pressuposições de muitos trabalhadores das madrugadas, e muitos que catam o refugo deste nosso modelo civilizatório, e sempre impositivo. Saímos de casa e há códigos de conduta muitas vezes distantes do contexto do nosso lar. No lar, há possibilidades de viver em comunhão, uma comunidade, quando seus membros anuem o fato. Se há uma pessoa de fora que traz sua bagagem reativa do externo, passa-se a casa a não ser mais um foco libertário, na acepção simples de viver bem entre os pares, em clima ameno e lúcido. Do mesmo modo, uma televisão pode se tornar um ente da mesma família ou comunidade, se considerarmos seu aspecto invasivo e igualmente impositivo. Pois é recorrente que muitos nem saem de frente das telas, grandes ou portáteis, de onde vem a palavra tele – de tela, superfície – para visão, estendendo o fato de vermos e ouvirmos. É um fenômeno neste país a dependência extrema desse veículo, onde os polos culturais cada vez mais se integram nesse suporte de mão única, quando o termo ligar seja usado como se funcionássemos da mesma forma que máquinas. Abre-se espaço para filmes com ficções que pintam o cenário do futuro apenas sob o prisma mecânico. Há sempre algo a ser aproveitado, como em uma engrenagem que gira e, por fim, acabamos aprendendo um pouco do metal e suas funções. Da vigília de uma noite insone para outra bem dormida, e que não sejamos sempre na mesma vigília… De qualquer modo, exercer uma atividade intelectual quando estamos insones pode ser um modo de acordarmos para a nossa verdade interna, que se passa dentro de um imo, e predispõe a que esvaziemos, dentro da expressão, nossa tensão por demanda em dizer, na própria expressão – que seja – escrita.

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