sábado, 24 de setembro de 2016

AO EXISTIRMOS

Uma questão de princípio elementar: a que versa sobre a existência do ser. Seria algo assaz complexo pensar assim sobre a questão. Mas continuamente pomos em xeque o que faz a diferença, e como essa atitude possa se transformar em uma ação, seja ela de moto próprio ou mesmo reflexa. A vida no planeta se mostra cruenta em muitos lugares, e de modo em que, por Deus, não demos a resposta que não seja algo terna: sempre necessária. A luta pelo pão é dura, como quão dura é a luta de um pássaro marinho a não deixar que outros disponham de seu bocado, assim como se apresenta a Natureza. No mundo ocidental a vida na Terra se apresenta com similaridade; basta que vivenciemos um pouco do que ocorre nas ruas para sentir um tipo de selva em que pouco a pouco estamos nos tornando... Que existamos e reflitamos um pouco a respeito de tudo isso, sobre o reparte, sobre quem somos enquanto agentes de nós mesmos ou o que vale estarmos a serviço de algo que desconhecemos, quando esse algo explica a brutalidade enquanto posta na ordem de fatores que nem sempre são efetivamente relevantes nas questões que realmente importam socialmente. Uma questão tão relevante ao ponto de começarmos a vivenciar a face quase inverossímil de alguns atos, algumas hostilidades nos espaços públicos que não deveriam estar ocorrendo, mas como tudo, apresenta suas causas, logicamente consequentes a algo, como os estranhos paradoxos inumanos de muitas vezes a razão não prevalecer entre os homens, o que desgasta sinceramente o bom senso que deve, este sim, imperar.
Talvez, no mesmo propósito, haja o imperativo de sabermos que lutar pela sobrevivência denota a mesma selva, posto em qualquer luta denotar o resultado de vencer ou ir à lona, o que na verdade não seria justo a quem quer que seja que para viver tenhamos que lutar. A vida devia ser maior do que isso, devia haver uma justiça social mais equiparada, pois justamente aqueles que detém grandes fortunas criam um tipo de equipagem para proteger seus patrimônios, enquanto que os mais desafortunados, além de trabalharem duramente para ganhar o ínfimo, ficam desprotegidos com relação às violências de seus entornos, enquanto perifericamente desguarnecidos da segurança pública. Não somos animais e nem deveríamos nos comparar a eles. Não há lobos, nem porcos, nem ratos, nem águias, nem baleias, nem nada de bichos na espécie, pois que aceitarmos uma vida de cães e gatos, ou gatos e ratos, ou presas e predadores, é apenas radicar o que vemos por vezes sucintamente no que nos chega nas tevês, naquilo que não nos tece o conforto da paz, mas o revirar gélido e tormentoso das contendas. Creia-se que uma crítica aos meios – quaisquer que sejam – traz uma rejeição algo pensada e criada sobre aquela mas, convenhamos, a crítica é sempre bela quando acrescenta, inclusive aos próprios meios que obviamente observam-na e, quando de boa intenção, busquem se repensar... Esse modus de observação obviamente traz em si uma relação de um diálogo importante e necessariamente sagaz do ponto de vista do desenvolvimento humano em qualquer frente de atuação e qualquer nível de abordagem. Se há, como efetivamente seja, uma relação de poder, que se articule sempre ao que o mais fraco se surpreenda com a compreensão do mais forte e que em nenhuma demanda haja a atuação de um sobre outro se não houver substabelecimento em Constituição Legal na sua evidência mais clara e na sua atuação mais estrita, respeitando o código maior dos direitos humanos em sua carta internacional. A Declaração Universal dos Direitos Humanos não é apenas aos ditos civilizados, mas que – a estes – que saibam como se portar com relação a países mais vulneráveis, e que as independências não versam sobre qualquer determinismo histórico, mas sim como o objetivo de qualquer nação, na harmonia necessária entre si e entre continentes. São textos que nos balizam, e não é que qualquer cidadão que tome a liberdade de rediscutir esses termos de compromisso que fazem parte de nossas conquistas históricas, que este venha a ser considerado como alguém que argüi sobre algo oco, ou dentro de um suposto anacronismo enquanto cidadão do mundo. Este mundo há de dizer, o nosso mundo não pode vir à lona, pois não deve permitir qualquer luta inglória, que não seja o predomínio da paz, abaixando as armas no sentido de rediscutir as causas dos embates econômicos, políticos ou mesmo – paradoxalmente – religiosos que os motivam.
A existência nos torna, nos redime, nos orienta, quando saibamos ler o que lemos, ou quando ensinamos àqueles que não sabem de muito, ao apenas querer saber ler. Não adianta traçarmos as metas se estas não se encaixam em um longo e necessário prazo de contenção de impulsos que destroem as boas colocações, posto até na argumentação necessária ao planificarmos o que se diz em sustentabilidade, mas que na correção seja algo que não sustente o erro, pois o fracasso não está em não sermos de construir o novo de forma sustentável, mas o de não reconstruir o que já existia, preservando justamente as mesmas qualidades da existência, estas que infelizmente vão se perdendo na memória cultural dos povos aos longo das gerações sucedâneas.

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