Carolina estava meio ansiosa, o celular inquieto, seu novo aluno à esperava, ela sabia que ele era meio estranho, pelo menos assim o consideravam, por isso escolhera a roupa mais bonita que possuía, para que pudesse seduzir o que desconhecia, talvez em si mesma. Não sabia o inglês fluentemente, mas achava que o que sabia seria o suficiente para que esse rapaz de dezenove anos, ainda um pouco imberbe, traçasse um conhecimento que não ultrapassasse seu repertório... Por isso o charme, a sedução, o teatro, como tão bem as mulheres sabem, quando estão em certas missões a que se pretendem, no mundo algo maníaco de hoje, quando todos estão meio com um viés de James Bunda(rs), ou um seriado barato do FBI, o que vem a dar no mesmo... Encontrou o rapaz frente à lareira, era um inverno rigoroso em Hamburgo, e não era exatamente o que ela esperava encontrar, posto lhe terem dado todas as incertas, alguns detalhes em que a diretoria traçara planos, estratégias, mas a ela lhe pareceu alguém como que mais normal, um mediano, sua altura, meio fatigado, um pouco de olheiras, e ela se deparava como consigo mesma, mais corpulenta, bem mais velha, já contava com quarenta e quatro! Ela temia que o tempo passaria rápido demais, e para esse “velho” rapaz, algo fraco, algo imberbe, não traçaria o tempo sendo a mesma escala, pois, em sua ignorância, não soubera ela que o tempo nem sempre é linear e jamais as coisas procedem como ensinaram-na, que imaginasse, que encarnasse um papel, que fosse amorosa, como com alguns especialmente, justo aqueles a que se designasse que perscrutar, dizia a diretoria, seria fácil e prazeroso. Na primeira aula, como de costume, ela se apresentaria falando o idioma pátrio, e apenas revelaria a ele o material que dispunha e que seria necessário para se ter o curso, conforme o figurino de sempre. Continuava a espiar o rapaz em frente à lareira, e uma estranha forma de inibição a impeliu a bater na porta, e não disfarçou seu ritmo, algo inquieto, no que escutou uma voz, grave:
- Está
aberta, pode entrar, por favor, Carolina! – A voz sugeria um quê de
independência, mas seria quiçá tão sutil que inconscientemente ela apenas
percebia um pequeno filete dessa ordem...
- Olá,
Chico, como vai? Como marcamos... Bem, como vê, cheguei meio cedo, mas está bom
assim... Não? – Meio que se quebrara na primeira fala, e não havia sido essa a
orientação de sua chefe, não poderia haver falhas, pois esse rapaz era um tipo
de ente suportável, mas extremamente importante para a escola, posto ela
poderia oferecer mais do que apenas um questionário, quiçá formular outras
questões, e a linguística seria sobremodo importante: ou que ele falasse
bastante, o escritório receberia as mensagens.
- Boa
tarde, teacher, estou bem, está tudo em riba, não se preocupe, aqui não há
segredos, fique à vontade, sente-se aqui perto, não te ressintas. – Ele se divertia
no íntimo, estaria fazendo vinte no outubro e estava plácido e feliz, posto ter
avançado deveras no estudo de sistemas, e o inglês seria ótimo para decifrar
códigos que, solitariamente, jamais compartilhando, ele conquistava com o seu
conhecer perpétuo.
Ela
evitou os olhos dele, sabia de alguns segredos, mas sequer lhe ensinaram na
Agência que em profundidade seus erros seriam considerados por aquele “moleque”
a coisa mais natural, posto ela era mulher, e os chefes dessas organizações
sempre colocam as mulheres para trabalhar, um tipo de prostituição, pensava
Chico, pois era um modo de utilizar seus atrativos para conseguir informações,
e atavicamente, no íntimo, certas mulheres gostam de estar a serviço de
outros/as para qualquer parada, seja ela uma questão de Governos, seja
financeira, seja mesmo a possibilidade de ter contato com homens ou mulheres
interessantes, mesmo que o viés seja dentro da síndrome de Maquiavel, onde o
vale tudo não esconde as mais sinistras intenções, a título do poder conferido,
aliás, o maior troféu que qualquer competidor pode obter, ou gente de ordens
militares, subversivas ou não: quando não, de mérito válido.
O
inglês que ela lecionava em Hamburgo era um inglês importante para a Europa
como um todo, e sabia ele que Hamburgo tecia relações algo estremecidas com a
Etiópia, os minérios estavam muito em jogo, e os interesses eram muito válidos
estrategicamente. Paradoxalmente, Chico sequer sabia que idioma era falado na
Etiópia, mas sabia que as apostas eram altas e possuía até pareceres gravados
pela Scotland Yard sobre o tema. A escola de idiomas onde ela trabalhava se
chamava Onassis, e ele sequer sabia a real verdade sobre o que seria realmente,
que tipo de função, ou seja, além obviamente de ensinar o inglês com o método
empregado. Ah, o método, essa era a questão, invariavelmente, ele estudara
antecipadamente a metodologia e isso lhe chamara atenção em seus estudos dos
códigos das linguagens e suas lógicas. E isso lhe conferia uma antecipação até
mesmo do diálogo que Carolina traria em sua bagagem, em seu treinar, pois tudo
não passaria de um processo em curso, e ele já sabia como se processaria o
inglês e como os professores, em geral, como sempre, garotas ou mulheres, davam
o melhor de si. Ele assim, devaneando, e ela quebrou-lhe a linha:
- Seus
familiares moram aqui com você?
-
Praticamente.
-
Praticamente? – Nervosamente, ela insistiu em qualquer resposta...
- Eu e,
de vez em quando, um gambá.
- Como?
– Carolina estava meio afoita, pensava ser um jogo de mal gosto, mas
aparentemente mantinha a frieza externa necessária para prosseguir, já estava
meio que temendo o garoto, já dava para ver que era inteligente, o que a fazia
temer mais ainda.
- Deixa
explicar - disse ele-, está vendo aquele prato com mamão na sacada aqui fora?
Eu deixo porque à tardinha vem um gambá me fazer companhia, por vezes entra em
minha casa, dizem que come serpentes venenosas, escorpiões, é um ótimo animal...
- I do
not... excuseme, please, don’t, on me player one... Sorry! Eu acho horrível!
- Não
precisa se preocupar, Carolina, ele não aparece agora e, veja bem: não é um
rato, é um gambá. Quando você estiver dando aulas não haverá problema, é só
fechar a porta da sacada. Mas é isso, se é isso em essência que você gostaria
de saber, é tudo, sou um homem que vive em companhia de seres como o gambá, e
tenho afeto por eles, compreenda-me. You don’t found nothing beyond this,
teacher, and, so, I guess love you to, because you is my leader cheap in these
questions of languages, but never forget that I love so much more the... Bom,
vamos parando por aqui!
- Eu
tinha um questionário para lhe faze... Bem, eu vim para lhe conhecer melhor,
meu aluno, me apresentar, são os ofícios da função!
- Bem,
nem tudo á anal..ítico!
- Não
estou analisando, estou tendo um conhecimento com meu aluno.
- Tudo
bem, é que está na hora de ler um pouco... em mandarim, estou aprendendo os
ideogramas, bem, supondo aprender, estudo um pouco de tudo...
- Logo
vi! – Exclamou meio bronqueada, meio frustrada, sua chefe não gostaria de saber
que o primeiro contato era quase nulo, haviam conversado sobre um gambá!
Merda...
-
Escute, passemos na próxima aula à prática do idioma, é para isso que eu lhe
contratei, lembra-se?
- All
right, ok!
- Então
até mais, lembre-se: diga para seu patrão dar sempre o rec continuous, senão
pausa na linha sete.
- Como?
-
Coisas de sistemas, minha cara, é o outro lado do objeto, mas deixe para lá,
ele vai tentar acertar em alguma aula, começam as funções, não é mesmo?
-
Certamente, nos vemos no horário combinado?
- Na
mesma bat hora... – Querida teacher!
- Ok,
nos falamos! – Disse ela, parecendo voltar a si.
- Por
suposto, minha cara: efetivamente... Até lá!
Nos
sorrimos amigavelmente e nos despedimos, ela tinha um comportamento meio
evasivo, mas foi embora para seu carro e saiu depois de ficar um bom tempo
ajustando o que tinha que ajustar...
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