terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

A FÊNIX DA QUARTA FEIRA DE CINZAS


A se relembrar possa, de dias que não se contam
Nas solicitudes de encontrarmos peças genuínas
Daquelas fábricas mais primorosas em que nada parece
Com algo de alguma manufatura mais preciosa
Do que não infira o tempo em saber dos dias que precedemos...

Distantes os dias a um, outro e quiçá as estrelas
Nos apontem próximos que virão mais distantes igualmente
Na profusão de músicas peremptoriamente progressivas
Em um rumor em que as pétalas da vida não se ressentem
De ao menos tentar sentir o sabor da aurora das cinzas de quarta.

Nada do ser que seja a poesia haveria de parecer com um nexo
Posto sua vertente não seja sequer a sombra inumerável da noite
Carpida pelos lençóis das luzes sobre o asfalto debruçadas!

Nisto de se vestir a poesia com um misto de espaços e rumores
Lateja em nós a proximidade de um fremir inquieto
De uma diastólica impressão em um ombro cansado
Onde o gesto do guerreiro tem pousado suas mãos inquietas...

Que seja longo o vértice do acaso, que se nos acalme as frentes
Onde, por precauções de acautelados verbos, as premissas façam o viés
De trazer à tona as noções primárias de liberdade, mesmo onde a flor
Não pede licença para fazer brotar a parcela quase certeira do seu rancor.

Os mesmos pesos são iguais, não importando tempo nem espaço,
Posto na latitude das dualidades, o certo vira errado, e vice e versa
Sob o prisma de onde tenha a vida, pois desta é que virá ela mesma.

Ainda assim, se meça a quirela de um passado quase ausente
Em que o intangível modal de certos artifícios não sustenta
A velha questão de uma moda de se ter uma cor reflexa
Turva como a noite, e tenebrosamente infantil como o vento...

E que dessa cor brote o último corvo da noite de terça
Quando o que perpasse nos dias não nos abrace moda
Já que um trigal não se ressinta com sua cor do ouro
Remontando a um passado que não se desdiz jamais!

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