domingo, 13 de novembro de 2016

MOTIVAÇAO CONSCIENTE E DESCASO

            Uma conversa com um analista talvez facilitasse a inquietação de Neusa. Ela não sabia o que se passava com o grande corpo social, considerando que fosse ele de sua percepção pessoal, e não propriamente do que ela requeria a si própria, de querer ou achar que estava questionando em uma investigação frenética o funcionamento do cérebro humano. Seria algo meio pretensioso, mas não a ela, e cada qual que esperasse a sua vez, o seu modo de saber algo. Mas a que pretender exatamente? Para ela, os vínculos de maior parte dos humanos com a realidade eram meio previsíveis, aliás, totalmente. E que ela fosse uma criatura adaptada, não o sabia direito, pois à mesmice teimava não pertencer, e tinha seus motivos... Justo que a ela se passava essa palavra: motivação, pois no seu entender certos fatos e certos comportamentos eram claramente motivados em sua raiz, mas os membros inferiores por vezes não acompanhavam. Seria talvez a questão sexual ou não, a tibieza dos idosos, a lucidez de certos velhos, pelo menos gigantes experiências da geração mais antiga, e o espelhamento de estranhas ignorâncias do que viria pelo mundo, com uma sociedade aparentemente – no seu entender – cada vez mais totalitária em sua parafernália e controle social. Essa motivação por coisas e objetos, levaria a que certas e “outras” coisas se passassem despercebidas, por descaso, por negligência. Ter afeto por uma árvore se tornava mais complicado do que por um aparelho de informática. Posto de um ser vegetal e outro mineral, mas este último um subproduto de petróleo e afins, como areia, metal e energia. Não se passava mais que a árvore possui seiva e vida, dá suporte a outros seres e não é apenas um relaxar-se na hora em que Neusa pensava que o cérebro descansa, enquanto as motivações chamadas conscientes davam margem para que adormecêssemos em um braço de ilusão de um Orfeu em descaso. Em deixarmos para trás a luta que agora seria importante que travássemos no mundo, virado apocalíptico não pelos erros do homem e suas perdições e sinais, não, por questão do simples descaso.
            No entanto, queria conhecer o cérebro... Esperaria a humanidade que ele funcionasse em sua totalidade? Ou só no que a evolução permite que usemos? Em quantas sinapses a mais seríamos. Voltava a pensar na motivação... Uma agenda, por exemplo: dia mês, hora, minuto, função, encontro, ganho, tabelas de perdas e ganhos, ganho afetivo, medidas, números. Em síntese, um algoritmo simples em sua lógica, e poderia encerrar na medida o perfil existencial que motiva a realização de um ser, seu território, seu circular-se, mesmo que em torno do planeta, a monitoração, uma agenda e suas complexidades existenciais não seriam de importância mais cabal, agora. Função-exposição-encontro-tempo-sentidos-pausas... eteceteras e pau na máquina, que esta gira. Lera um artigo sobre sair dos eixos, ou seja, deixar-se sentir, deixar-se se apaixonar! Obviamente destinado a um público algo leitor. O problema seria como sair de um eixo e entrar nas bielas do motor, desfrear-se, re-produzir algo se, na verdade duas rodas só giram com um eixo, e isso seria um exemplo de relação. Quando uma para a outra igualmente, e a palavra eixo já não remonta a farsa de que estejamos repetindo certas histórias pois, pensava ela, o divisionismo remonta a motivação de antigas contendas, e não sobra muito para aqueles que se utilizam de eixos lógicos sedimentados por comunicações integradas para obter seus propósitos, políticos ou não. Seguindo a orientação de sua pequena mas logicamente leal investigação sobre o cérebro, chegava a certas conclusões de que apenas uma mídia não é um eixo, mas o próprio motor de centro que o movimenta em todas as direções, pois é evidente que regimes autoritários surgem dessas vasões, como mostrara a direção a própria imprensa. Mas o caso dela ia mais além, não apenas questões de empregados dos jornais que escrevem como papagaios por repetirem muito certas contradições de pensamento, o que acaba por permitir o descaso de questões cerebrais importantes, mais importantes!
            Em sua situação existencial estabelecera um critério imparcial de conduta para dirimir dúvidas sobre o que é um mapa, o que é uma sinapse linear, o que é um flash fotográfico, o que seria – se existisse – uma sinapse em três dimensões, quais os territórios do cérebro e a que par estão os estudos sérios e acadêmicos sobre o assunto. Haveria contestação a que se prosseguisse fora desse âmbito a taxa de normalidade de alguém tomar assento e se dispor a conhecer de algo fora do padrão científico, baseada apenas nas suas impressões e especulação empírica. Afora essa sublocação ignorada pelos bastiões, na verdade talvez interessasse a alguém prestes a se tornar um médico psiquiatra, talvez, que ela partilhasse de suas opiniões, pois, apesar de ser secundarista, possuía esse talento crítico para compartir com seus colegas essas questões existenciais. Mais do que tudo, optara pela computação, mas conhecia a história da filosofia, pois recebera orientação de sua família, com livros e tudo o mais, e não representava a realidade do nível das escolas nacionais, que tendiam a piorar brutalmente o seu nível. Fora isso que a motivara a investigar a motivação consciente, depois de ver tantos representantes do povo brutalmente ignorantes, com os únicos motivos anódinos de enriquecer... Quis ir mais profundamente na questão. O cérebro humano. Depois de suas anotações empíricas, notou que algo estava vago na noção de que o homem é o animal mais inteligente. Empacou no verbo ser como uma mula que não anda mais. E ficou pensando, o que seria a inteligência senão, como um espelhamento de si mesma, ter as condições necessárias ao conhecimento pleno e sem fronteiras. Mas chegou a essa conclusão dentro de seu próprio bairro, a verificar na Natureza uma resposta que lhe chegava aos borbotões, nessa mesma Natureza inclusa a construção humana, e suas respectivas percepções. Dessa análise, filtrou mais um pouco e reteve um simples dado que identificou uma parte crucial de sua pequena verdade encontrada: quais formigas, a espécie humana é diferente pelo seu físico, mas com a diferença de não ser nua a andar pelas ruas, e desse modo a motivação principal que observou é que muitos mais jovens parecem querer que estejam nus fazendo o que sempre os motivou. E tudo o mais, as relações de poder, abraçando igualmente os mais velhos, em uma grande energia em que o cérebro humano passa a perder para as sinapses de um formigueiro em sua organização simples e força física de seres muito mais amplos...
            Mas a coisa não seria muito reducionista, e teve que observar melhor o sapiens: a si mesma, como ser enquanto pensamento vertido. Não obteve resposta, pois este pensamento se sucedia e parecia ou tinha a impressão de que mudava a cada classe de percepção, as influências de seus sentidos. Voltou à velha questão do Gita: os sentidos como uma parelha de cavalos... Bastaria direcioná-los? Não, não caberia discutir a religião, pois fumara um cigarro e alguns já olhavam meio atravessado, estava em rua. Propriamente, em frente ao mar, as costas a uma rua do bairro... Parou um pouco, talvez estivesse encontrado alguma resposta: o que a motivava talvez não daria as respostas. Queria investigar o cérebro humano. Olhou para as suas mãos, lembrou-se do Macaco Nu, de Desmond Morris, um livro importante para conhecermos a nós mesmos. Como outro, A Dimensão Oculta, de Edward T. Hall, livros que seu pai possuía e que ensinavam coisas distintas do que as escolas tradicionais colocavam à disposição, haja vista Neusa ser muito precoce intelectualmente. No filme 2001 via que a ferramenta-osso se tornara a nave, mas sabia do fracasso da espécie humana em encontrar meios para desfrutar de um planeta ao menos razoável... A sede de ganância do cérebro de muitos homens e mulheres estava cravada sobre a Terra e essas garras titânicas eram o símbolo dessa relação de poder, uma motivação inerente a que se destruísse a liberdade de outros para desfrute das riquezas dos países vitimados por grandes potências. Talvez fossem grandes cérebros que pensassem por outros menores, garras menores, armas menores, talvez algo que remontasse um cérebro com uma inteligência superior, mas com a intenção de usar essa ou essas inteligências para exercer o poder que mal e mal se equilibrava com outros contendores no planeta.
            Chegava Neuza a infinitas conclusões, mas nenhuma delas lhe daria um encerramento de uma tese, visto ser apenas uma investigação que considerava paralela, pois talvez a ciência estivesse apenas estudando a questão para fins médicos ou de pesquisa vária e necessária ao andamento da ciência. A seara era muito extensa, e nada a preocupava mais do que saber que tantos e tantos filósofos haviam contribuído para o pensamento dos homens, influenciando a história e que hoje se falava em fundamentalismo religioso como se fosse algo natural, e na verdade muito da cultura dos povos continuava, por descaso, omissão ou motivos torpes, a ser massacrada no seio de muitas sociedades antigas, gerando mais e mais guerras e fundamentalismos religiosos, incompreensão, racismo, intolerância, violência, crimes e etc. Era bom para Neusa que ninguém soubesse ao certo para que reservara durante aqueles dois últimos meses um tempo para pensar a respeito. Mas aprendia muito, chegando a uma conclusão inevitável que iniciaria uma outra questão recorrente. Só saberia encontrar uma verdade mais sólida sobre a motivação consciente e o descaso se descobrisse igualmente o que seria o descaso consciente e a motivação involuntária. O labirinto se tornava tão amplo que chegava à conclusão de que as sociedades dos seres humanos sofrem continuamente de suas próprias contradições. Negá-las é um imenso descaso, e debatê-las para melhorar sistematicamente a vida de nossas populações torna-se uma motivação não apenas consciente, mas igualmente saudável para que se melhore a questão de como utilizarmos nossa massa cinzenta para viver melhor com o próximo, e esse direito é a razão que aproxima Neusa de sua realidade e seu desejo de muda-lá!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário