Uma conversa com um analista talvez
facilitasse a inquietação de Neusa. Ela não sabia o que se passava com o grande
corpo social, considerando que fosse ele de sua percepção pessoal, e não
propriamente do que ela requeria a si própria, de querer ou achar que estava
questionando em uma investigação frenética o funcionamento do cérebro humano.
Seria algo meio pretensioso, mas não a ela, e cada qual que esperasse a sua
vez, o seu modo de saber algo. Mas a que pretender exatamente? Para ela, os
vínculos de maior parte dos humanos com a realidade eram meio previsíveis,
aliás, totalmente. E que ela fosse uma criatura adaptada, não o sabia direito,
pois à mesmice teimava não pertencer, e tinha seus motivos... Justo que a ela
se passava essa palavra: motivação, pois no seu entender certos fatos e certos
comportamentos eram claramente motivados em sua raiz, mas os membros inferiores
por vezes não acompanhavam. Seria talvez a questão sexual ou não, a tibieza dos
idosos, a lucidez de certos velhos, pelo menos gigantes experiências da geração
mais antiga, e o espelhamento de estranhas ignorâncias do que viria pelo mundo,
com uma sociedade aparentemente – no seu entender – cada vez mais totalitária
em sua parafernália e controle social. Essa motivação por coisas e objetos,
levaria a que certas e “outras” coisas se passassem despercebidas, por descaso,
por negligência. Ter afeto por uma árvore se tornava mais complicado do que por
um aparelho de informática. Posto de um ser vegetal e outro mineral, mas este
último um subproduto de petróleo e afins, como areia, metal e energia. Não se
passava mais que a árvore possui seiva e vida, dá suporte a outros seres e não
é apenas um relaxar-se na hora em que Neusa pensava que o cérebro descansa,
enquanto as motivações chamadas conscientes davam margem para que adormecêssemos
em um braço de ilusão de um Orfeu em descaso. Em deixarmos para trás a luta que
agora seria importante que travássemos no mundo, virado apocalíptico não pelos
erros do homem e suas perdições e sinais, não, por questão do simples descaso.
No entanto, queria conhecer o
cérebro... Esperaria a humanidade que ele funcionasse em sua totalidade? Ou só
no que a evolução permite que usemos? Em quantas sinapses a mais seríamos.
Voltava a pensar na motivação... Uma agenda, por exemplo: dia mês, hora,
minuto, função, encontro, ganho, tabelas de perdas e ganhos, ganho afetivo,
medidas, números. Em síntese, um algoritmo simples em sua lógica, e poderia
encerrar na medida o perfil existencial que motiva a realização de um ser, seu
território, seu circular-se, mesmo que em torno do planeta, a monitoração, uma
agenda e suas complexidades existenciais não seriam de importância mais cabal,
agora. Função-exposição-encontro-tempo-sentidos-pausas... eteceteras e pau na
máquina, que esta gira. Lera um artigo sobre sair dos eixos, ou seja, deixar-se
sentir, deixar-se se apaixonar! Obviamente destinado a um público algo leitor.
O problema seria como sair de um eixo e entrar nas bielas do motor, desfrear-se,
re-produzir algo se, na verdade duas
rodas só giram com um eixo, e isso seria um exemplo de relação. Quando uma para
a outra igualmente, e a palavra eixo já não remonta a farsa de que estejamos
repetindo certas histórias pois, pensava ela, o divisionismo remonta a
motivação de antigas contendas, e não sobra muito para aqueles que se utilizam
de eixos lógicos sedimentados por comunicações integradas para obter seus
propósitos, políticos ou não. Seguindo a orientação de sua pequena mas logicamente
leal investigação sobre o cérebro, chegava a certas conclusões de que apenas uma
mídia não é um eixo, mas o próprio motor de centro que o movimenta em todas as
direções, pois é evidente que regimes autoritários surgem dessas vasões, como
mostrara a direção a própria imprensa. Mas o caso dela ia mais além, não apenas
questões de empregados dos jornais que escrevem como papagaios por repetirem
muito certas contradições de pensamento, o que acaba por permitir o descaso de questões
cerebrais importantes, mais
importantes!
Em sua situação existencial
estabelecera um critério imparcial de conduta para dirimir dúvidas sobre o que
é um mapa, o que é uma sinapse linear, o que é um flash fotográfico, o que
seria – se existisse – uma sinapse em três dimensões, quais os territórios do
cérebro e a que par estão os estudos sérios e acadêmicos sobre o assunto.
Haveria contestação a que se prosseguisse fora desse âmbito a taxa de
normalidade de alguém tomar assento e se dispor a conhecer de algo fora do padrão
científico, baseada apenas nas suas impressões e especulação empírica. Afora
essa sublocação ignorada pelos bastiões, na verdade talvez interessasse a
alguém prestes a se tornar um médico psiquiatra, talvez, que ela partilhasse de
suas opiniões, pois, apesar de ser secundarista, possuía esse talento crítico
para compartir com seus colegas essas questões existenciais. Mais do que tudo,
optara pela computação, mas conhecia a história da filosofia, pois recebera
orientação de sua família, com livros e tudo o mais, e não representava a
realidade do nível das escolas nacionais, que tendiam a piorar brutalmente o
seu nível. Fora isso que a motivara a investigar a motivação consciente, depois
de ver tantos representantes do povo brutalmente ignorantes, com os únicos
motivos anódinos de enriquecer... Quis ir mais profundamente na questão. O
cérebro humano. Depois de suas anotações empíricas, notou que algo estava vago
na noção de que o homem é o animal mais inteligente. Empacou no verbo ser como
uma mula que não anda mais. E ficou pensando, o que seria a inteligência senão,
como um espelhamento de si mesma, ter as condições necessárias ao conhecimento
pleno e sem fronteiras. Mas chegou a essa conclusão dentro de seu próprio
bairro, a verificar na Natureza uma resposta que lhe chegava aos borbotões,
nessa mesma Natureza inclusa a construção humana, e suas respectivas
percepções. Dessa análise, filtrou mais um pouco e reteve um simples dado que
identificou uma parte crucial de sua pequena verdade encontrada: quais
formigas, a espécie humana é diferente pelo seu físico, mas com a diferença de
não ser nua a andar pelas ruas, e desse modo a motivação principal que observou
é que muitos mais jovens parecem querer que estejam nus fazendo o que sempre os
motivou. E tudo o mais, as relações de poder, abraçando igualmente os mais
velhos, em uma grande energia em que o cérebro humano passa a perder para as
sinapses de um formigueiro em sua organização simples e força física de seres
muito mais amplos...
Mas a coisa não seria muito
reducionista, e teve que observar melhor o sapiens: a si mesma, como ser
enquanto pensamento vertido. Não obteve resposta, pois este pensamento se
sucedia e parecia ou tinha a impressão de que mudava a cada classe de
percepção, as influências de seus sentidos. Voltou à velha questão do Gita: os
sentidos como uma parelha de cavalos... Bastaria direcioná-los? Não, não
caberia discutir a religião, pois fumara um cigarro e alguns já olhavam meio
atravessado, estava em rua. Propriamente, em frente ao mar, as costas a uma rua
do bairro... Parou um pouco, talvez estivesse encontrado alguma resposta: o que
a motivava talvez não daria as respostas. Queria investigar o cérebro humano.
Olhou para as suas mãos, lembrou-se do Macaco Nu, de Desmond Morris, um livro
importante para conhecermos a nós mesmos. Como outro, A Dimensão Oculta, de Edward
T. Hall, livros que seu pai possuía e que ensinavam coisas distintas do que as
escolas tradicionais colocavam à disposição, haja vista Neusa ser muito precoce
intelectualmente. No filme 2001 via que a ferramenta-osso se tornara a nave,
mas sabia do fracasso da espécie humana em encontrar meios para desfrutar de um
planeta ao menos razoável... A sede de ganância do cérebro de muitos homens e
mulheres estava cravada sobre a Terra e essas garras titânicas eram o símbolo
dessa relação de poder, uma motivação inerente a que se destruísse a liberdade
de outros para desfrute das riquezas dos países vitimados por grandes
potências. Talvez fossem grandes cérebros que pensassem por outros menores,
garras menores, armas menores, talvez algo que remontasse um cérebro com uma
inteligência superior, mas com a intenção de usar essa ou essas inteligências
para exercer o poder que mal e mal se equilibrava com outros contendores no
planeta.
Chegava Neuza a infinitas
conclusões, mas nenhuma delas lhe daria um encerramento de uma tese, visto ser
apenas uma investigação que considerava paralela, pois talvez a ciência
estivesse apenas estudando a questão para fins médicos ou de pesquisa vária e
necessária ao andamento da ciência. A seara era muito extensa, e nada a
preocupava mais do que saber que tantos e tantos filósofos haviam contribuído
para o pensamento dos homens, influenciando a história e que hoje se falava em
fundamentalismo religioso como se fosse algo natural, e na verdade muito da
cultura dos povos continuava, por descaso, omissão ou motivos torpes, a ser
massacrada no seio de muitas sociedades antigas, gerando mais e mais guerras e
fundamentalismos religiosos, incompreensão, racismo, intolerância, violência,
crimes e etc. Era bom para Neusa que ninguém soubesse ao certo para que
reservara durante aqueles dois últimos meses um tempo para pensar a respeito.
Mas aprendia muito, chegando a uma conclusão inevitável que iniciaria uma outra
questão recorrente. Só saberia encontrar uma verdade mais sólida sobre a
motivação consciente e o descaso se descobrisse igualmente o que seria o
descaso consciente e a motivação involuntária. O labirinto se tornava tão amplo
que chegava à conclusão de que as sociedades dos seres humanos sofrem
continuamente de suas próprias contradições. Negá-las é um imenso descaso, e debatê-las
para melhorar sistematicamente a vida de nossas populações torna-se uma
motivação não apenas consciente, mas igualmente saudável para que se melhore a
questão de como utilizarmos nossa massa cinzenta para viver melhor com o
próximo, e esse direito é a razão que aproxima Neusa de sua realidade e seu
desejo de muda-lá!!!
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