Acordei muito cedo pela madrugada
afora naquele 5 de maio. De primeira ordem, fui ao jardim ver o céu e os matos,
estes meio que não crescendo mais com a vitalidade do verão, mas que as meias
estações já não eram as mesmas. Cresci bastante por dentro – pensava – crescera
quase como uma fundação. Talvez merecesse ser guardado como um quase
patrimônio, mas era outra casa, outro contexto... Pensei em uma ordem natural,
quando no jardim da frente, a Natureza mais calma, mas a devastação era fato
exato na velocidade de uma moto serra. Melhor seria não existissem motores, mas
a existência da roda em nossa civilização pressupunha aqueles, nem que fosse
algo previsível, mas a grande roda teria ainda que ser inventada, talvez em um
loop contínuo, ou em vértices de outras geometrias: do loop a se dizer,
geométrico... Keruac povoava a minha própria geometria no seu dizer extenso, a
que se busque pesquisar seja, no jargão societário, quem sabe, mas no que há de
maior se busque igualmente outros iguais ou mais amplos na sua latitude de
querências.
A noite era curta como um sonho
incompleto, mas que fora mais longa no dia posterior a este anterior parágrafo
incompleto, em que completar fosse mais fácil do que dar uma cartada bem
presente, com muita presença, no poker. Meio que a vida não seja presença muito
fácil, de se viver como um presente do alto, mas nada me tirava a ideia desse
mesmo presente, posto em saber-me gente não ter onde medir algo que dizem de
genoma, ou uma árvore que meus pais desconheceram ao construir-me em meu
nascituro. Gastaria eu um tutano a mais a tecer críticas ao sistema, mas a
partir de onde? Se cada letra impressa na tela me proporciona escutar um blues
de Jethro... Sem você, cara amiga que nem sei que é, a noite é curta, pois que
a pudéssemos curtir a mais, en la pareja...
Não me venham com acessórios psíquicos ou suprimentos perceptivos que estou
aberto, minhas lindas, a qualquer parâmetro em que sei de viver com o
pressentimento de trunfo de nunca me pousar em meus ombros qualquer fama, pois
sou mais um, e nunca deixarei de sê-lo, a partir do momento em que percebi que,
se em umas folhas caídas no chão dá de sentir muito, no fato de um ser outro,
qualquer, existir, me põe na consciência que serei apenas um, um a mais, e nada
me convence a ser superior, posto mesmo no colo do inimigo pousa um inseto
solitário, ou recrudescem as mesmas bactérias em que somos boa parte do corpo.
Esta é a presença talvez inequívoca de me fazerem escrever, meus fantasmas
solitários em que os encontro em um quê de palma solitária que desaba em meus
varais onde pendurei inúmeras vezes as roupas que já vesti, as roupas que visto
agora, e que vistam outros, e que o parafuso que prende o varal está firme
entre dois tijolos. Algo de pastiche literário beat me assoberba, pois há
várias pontes, meus caros, não apenas a que une práxis e doutrina, mas um
pressuposto existencial que fala alto e pede a passagem, que seja, quiçá a
algum lugar do imaginário que não se imagina, pois que verte do imo da gente,
em se pretender urgente a frase, enigma o período e inevitáveis as escalas.
Como na gaita de Dylan!
Via um dia um livro: Roma, do antigo
ao novo império... Em italiano, ano de aquisição da família: 1937. Caramba, que
década! Todo o tema do fascismo, em italiano, nas minhas mãos, que não sei esse
idioma a ponto de compreender certos arabescos, mas que influência teve na
Itália, no Japão e na Alemanha... Todo um jogo, o Duce Mussolini, a inspiração
de toda uma ignorância, dos povos desempregados, a propaganda, descambo no
nacionalismo totalitário e na versão quase milenar da violência como cunho do
que achavam que seria uma revolução, que seria basicamente a repressão àqueles
que lutavam por melhores tempos. E vinham os camisas pretas, os luvas negras,
uma concepção de Estado-violência. Um estado militarista. Como se não fora,
tira-se cópias, não apenas do enquadramento de personalidades contemporâneas no
sentido de rotular, mas igualmente de receitas que se repetem, no melhor estilo
nitchiano. E os civis começam a agir como certos soldados que se perdem em ação
e perdem na atitude do respeito, e agem igualmente de modo societário para a
limpeza, qual não fosse, quase sempre por arriba dos vermelhos. E os fascistas
possuem seus títeres e líderes. Como de alcunha, mas o poder os constitui e os
investe... Poder usurpado, talvez como na chancelaria de Hitler, usurpado sim,
mas investido. Perdem-se as noções, têm-se o aparato mas as forças ficam em
cima do muro articulando meios de controle. Na verdade seguem o papel da
investidura dos Poderes Máximos, mas há que revisitar a consciência... A
consciência é para todos, não pode haver exceção, pois se há classes estas já
estão. Se há lutas de classes, estas também participam justamente do que ocorre,
pois é o que está. Afora simples constatações como esta, saibamos que o crime
igualmente é e acontece. Um processo pode ser curto ou extenso, um julgamento
pode ser justo ou sumário. Um parecer pode ser parcial ou imparcial, um homem
pode ser corrupto em qualquer categoria e função, não importa, isso é fato. É o
que ocorre em nações onde a erudição é bem mais alta do que no nosso país, pois
o dinheiro fala a sua própria palavra, detém em si o próprio sentido, em todos
os lugares onde se começa a perceber que enquanto miseráveis crescem
avassaladoramente pelo planeta existem esfinges que não dobram a quem necessita
um centavo de seus bilhões. Assim nasce o ultra nacionalismo de direita. Assim
nasce o fascismo, e cada vez mais a vida beligerante, o treinamento militar de
confronte direto, a corrida aos meios de Inteligência em lógicas que relutam em
se repensar, o não questionamento sobre certas questões de origem no Direito
Constitucional, a luta insana pelo poder pelo poder, pelo controle, ao
controlar-se outros e não a si próprios... O livro de 1937 sobre Roma: dall
Antiquo ao Nuovo Imperio se repete em doutrina, será relido? Uma relíquia e
devemos ler, para sabermos história, pois o fascismo consta de séculos
anteriores e inspirou fortemente os Nazistas.
É hora de botarmos as cartas do
grande poker... Não pode haver erro de interpretação histórica. Uma moeda tem
seus dois lados, e quando era de prata já é do passado, existindo furada em um
pingente de donzela. Será que essa moça saberia que o seu namorado pugilista já
maltratou uma pá de gente? Será que sabe a história da moeda, como surgiram as
riquezas? Será que não teremos tempo de debater sinceramente todos aqueles
jogos que se tornaram jogos por questões de fazerem o jogo da hipocrisia? A
moeda apresenta seu valor em uma face. Na outra o jargão da cara. Não é
pensando que ganhando uma estaremos ganhando a medalha da competição a que
voluntariamente nos empenhamos em fazer valer essa corrida insana... Essa
constatação que o façam os que tem capacidade de autocrítica, pois se fazer
valer da verdade pode ser algo que nos faça sofrer, quiçá tenho a esperança de
que a humanidade começasse a se arrepender de seus “nobres” feitos. Quem sabe
remediar a uma não poluente transgressão criminal, como as chaminés que Kioto
não especificou como crime, inviabilizando mais de uma década de progresso na
qualidade de nossas vidas. A vertente de não sabermos mais onde fica a história
reza na unilateralidade de conquistas que não ultrapassamos na nossa
humanidade. Não se trata mais apenas de distribuir, mas de reconstruir
em cada passo que damos, e que nos demos conta dos passos que demos para que
possamos andar na vereda dos passos que porventura ainda possamos dar no
futuro, antes que este se nos apresente lava, ou chumbo.
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