terça-feira, 21 de junho de 2016

A CALHA DOS PRAZERES

Quem diria se não os tivéssemos, no soprar dos ventos
Em que ruge o temperamento de uma fêmea
Nas vozes cálidas da lua em que as noites abraçam
Os solares que encontramos em cada chave posta.

O encontro fortuito, a palavra terna, um olhar cigano
Já que não se verta a paradoxal frase libertária
Que emperra o andamento dos pés dos que livres
Navegam no próprio caminhar de suas razões.

Em si, e por si, na verdade não nos encontramos muito
Quando dispomos de um corvo nas entrelinhas
Que nos assoberba de um voar, mas que um outro pássaro
Feito mar nos agiganta mesmo quando não vemos o barco.

Feito calha, verte-se uma água cristalina na fronte
De uma mulher que se encontra com seu próprio lado
Seja de que lado for: ensimesmada no brilho da noite
Em que despe-se ao trabalho noturno sem dispor do dia.

Caminha-se por latitudes de cristal à semântica das flores
Quando subtrai-se a própria ternura dos dias que vivemos
Em que o metal de uma calota de plástico se nos apresenta
Mais um modelo de carro que passa por imaginários sociais...

Das trocas, dos valores, de possuir-se a estética de vanguarda
Se sobrepõe a sede de querermos nos alimentar do complexo
Em que a simplicidade não é propriamente obra de Pessoa
Nem transcende à Arcádia dos tempos da poesia bela...

Vertem-se poderes, e quem quiser que possa, quando quer
Possuir querendo, e o fruto nem sempre é algo que se tem
Quando muitos querem apenas o navegar sereno
De uma honestidade ímpar que embeleza a vida e traduz o amor.

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