terça-feira, 3 de maio de 2022

O CAMARÃO AZUL

 

Na chuva de dias e dias vemos a praia, por vezes do alto
Em um alambrado ou mirante, e descemos a pisar areias
Quando os pés sentem a maciez de seu existir fragmentar
Em que verbos e madeiros surgem na poesia do artista
Sabendo-se ser a necessidade impecável da existência
Quanto de sabermos que a saída é ver a visão do mar…

E, quando descemos à praia, vestidos do rumor inquieto
Na mansidão paradoxal do espírito que nos reveste as pernas
Caminhamos rumo ao distantemente próximo nicho
Em que nos perdemos frente ao teorema de nossas vidas
Mas voltamos a nos encontrar na imensidão do tapete de d’água.

Em que verdades residem nossos olhos, creiamos, talvez não saibamos
Quando encontramos um grande camarão quase púrpura, de um azul
Na serenidade de nosso olhar, na chuva, a água brotando de uma manilha
Em que, porventura, um pequeno objeto de espuma, fragmento de boia
Brota como um sonho na cachoeira inventada, uma água pluvial
Em que quando citada por vezes queiram: assume o tom surreal…

E segue a maravilha dos tempos, um tempo em que as envergaduras
De pássaros de mais altitudes relembram os botes do falcão
Como em planadores calmos na velocidade lancinante do olhar
Quando relembram pescadores ferinos em sua sabedoria
E terminam os inícios da manhã em pescar as suas mantas
De cardumes quase invisíveis ao olhar de um passante rotineiro!

O modo veraz de ver o mundo será um tanto que não nos reduza
A um período meridional ou a fama de um povo setentrional
Quando seja a questão maior de se ver que, na luz cinza de um dia chuvoso
O camarão azul segue o seu ritmo cadente de rumar fundo às marés...


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