O consumo da arte por vezes – salve acréscimos
recorrentemente históricos – se dá hoje de modo inusual. O que
por vezes nos pareça que, independente de optarmos por questões de
ordem técnica, no mais das vezes não damos valor ao esteticismo
como animismo espiritual, no ato da criação pura e simples, quiçá
de modo terapêutico na forma de oficinas, principalmente com aqueles
que por alguma razão estão em situação de vulnerabilidade. A cada
dia parecemos que na afetividade também reza que sejamos técnicos,
ou seja, que depositemos o afeto na prestação de serviço pura e
simplesmente, mas será sempre no bom e sincero dialogar, no
entendimento humano e no carinho que reside a afetividade tão
necessária nos tempos atuais, e a arte de viver é serenamente a
compreensão desse valor, desse tema.
Uma questão simples, em
que se um ser humano trabalha tendo rancor do que faz, de duas uma:
parte a uma rebeldia sem causa, ou reivindica seus direitos de forma
organizada, quando o coletivo como um todo se organizar, a ponto do
ser coletivo desenvolver sensibilidade cabal para perceber as
comunidades com o potencial de se melhorar. Nesse universo a questão
é técnica, mas pode se fundir com arte, posto nem sempre se
organizar seja questão de burocracias, mas beira muitas vezes a
informal camaradagem e o humanismo necessário que tantas e tantas
vezes a arte se abraça com essas gentes que muitas vezes estão
apenas clamando por justiça social, sem que se deseje retroagir no
tempo, no regresso em que – na verdade em parte, necessário,
quando a pressão é transversal – porventura não destrói a
comunicação e sua fluência no sentido de promover o bem-estar que
se origina na tomada de consciência, que parte da mão do “outro”
que ajuda o próximo no sentido que se propõe a dispor das
ferramentas cruciais: arte e técnica. Essa assertiva pode navegar
sensivelmente nos casos onde as discrepâncias existenciais torna a
vida de muitos conflituosa e confusa no sentido de passar a ingerir
toxidades, a praticar ilicitudes e migrar informalmente para uma vida
marginal. Passa a ser compulsoriamente vital a função do Estado de
se tornar mais organizado, por sua parte, para tentar educar a sua
população para se sair de condições em que não há merecimento
nem culpa em termos de cidadania, mas sim na omissão estatal em
descuidar desse modal estruturante no seio social.
Não há
como dividir arte e técnica, pois a própria poesia possui sua
modalidade algo científica em termos de razões predicativas e etc.
A ortografia, a gramática, o ritmo, a fonética, são qualidades
que, quando alicerçadas no caldeirão algo simbiótico da linguagem,
pode dar rumo infinito à expressão, dali vindo termos analíticos,
como a semiótica e a linguística, ciências irmãs, e que, no
entanto, ainda caminham mais como cavalos em círculos, muito das
vezes. Como um registro de um ideograma, se formos mais além, pois
seus significados beiram um arte tão bela e antiga que um pequeno
ponto pode ser um enigma, e a distância cultural desse grande
caldeirão expressivo denota não percebermos o quão distante é o
latino ou o anglo-saxônico desse contexto…
Nessa miríade de
arte escrita dispomos também do que dizemos, e as transliterações
entre culturas e idiomas são saladas onde nem mesmo a Grécia
ousaria cravar suas raízes! De tudo a concatenação sabe um pouco e
a técnica micro industrial pode se tornar um ótimo referencial de
lucro, porquanto todo um gigantesco farnel tecnológico – a bem
saber, o sal da técnica – pode ser ombreado apenas com toda a
facilidade e velocidade produtivas: de um lado, grandes equipes de
técnica, de outro, grandes volumes de peças com pouca técnica:
fabricadas a preço competitivamente relativo, em uma economia de
controle que permite igualmente com parques fabris gigantes dando
suporte ao desenvolvimento paulatino e paralelo a uma inteligência
superior enquanto integrativa, dentro de um molde que, para um país
em desenvolvimento, pode até gerar contextos de ajuda mútua no
compartilhamento de insumos e matérias-primas. Então, há arte no
ideograma? A certeza é cultural, pois sempre foi e será a escrita
sem o cuneiforme lógico da impressão quase fechada, dando margem ao
gesto, dando de se respirar a serenidade oriental de um mestre que
mantém em si milênios de história e cultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário