domingo, 22 de maio de 2022

DA ARTE E DA TÉCNICA

 

           O consumo da arte por vezes – salve acréscimos recorrentemente históricos – se dá hoje de modo inusual. O que por vezes nos pareça que, independente de optarmos por questões de ordem técnica, no mais das vezes não damos valor ao esteticismo como animismo espiritual, no ato da criação pura e simples, quiçá de modo terapêutico na forma de oficinas, principalmente com aqueles que por alguma razão estão em situação de vulnerabilidade. A cada dia parecemos que na afetividade também reza que sejamos técnicos, ou seja, que depositemos o afeto na prestação de serviço pura e simplesmente, mas será sempre no bom e sincero dialogar, no entendimento humano e no carinho que reside a afetividade tão necessária nos tempos atuais, e a arte de viver é serenamente a compreensão desse valor, desse tema.
          Uma questão simples, em que se um ser humano trabalha tendo rancor do que faz, de duas uma: parte a uma rebeldia sem causa, ou reivindica seus direitos de forma organizada, quando o coletivo como um todo se organizar, a ponto do ser coletivo desenvolver sensibilidade cabal para perceber as comunidades com o potencial de se melhorar. Nesse universo a questão é técnica, mas pode se fundir com arte, posto nem sempre se organizar seja questão de burocracias, mas beira muitas vezes a informal camaradagem e o humanismo necessário que tantas e tantas vezes a arte se abraça com essas gentes que muitas vezes estão apenas clamando por justiça social, sem que se deseje retroagir no tempo, no regresso em que – na verdade em parte, necessário, quando a pressão é transversal – porventura não destrói a comunicação e sua fluência no sentido de promover o bem-estar que se origina na tomada de consciência, que parte da mão do “outro” que ajuda o próximo no sentido que se propõe a dispor das ferramentas cruciais: arte e técnica. Essa assertiva pode navegar sensivelmente nos casos onde as discrepâncias existenciais torna a vida de muitos conflituosa e confusa no sentido de passar a ingerir toxidades, a praticar ilicitudes e migrar informalmente para uma vida marginal. Passa a ser compulsoriamente vital a função do Estado de se tornar mais organizado, por sua parte, para tentar educar a sua população para se sair de condições em que não há merecimento nem culpa em termos de cidadania, mas sim na omissão estatal em descuidar desse modal estruturante no seio social.
         Não há como dividir arte e técnica, pois a própria poesia possui sua modalidade algo científica em termos de razões predicativas e etc. A ortografia, a gramática, o ritmo, a fonética, são qualidades que, quando alicerçadas no caldeirão algo simbiótico da linguagem, pode dar rumo infinito à expressão, dali vindo termos analíticos, como a semiótica e a linguística, ciências irmãs, e que, no entanto, ainda caminham mais como cavalos em círculos, muito das vezes. Como um registro de um ideograma, se formos mais além, pois seus significados beiram um arte tão bela e antiga que um pequeno ponto pode ser um enigma, e a distância cultural desse grande caldeirão expressivo denota não percebermos o quão distante é o latino ou o anglo-saxônico desse contexto…
         Nessa miríade de arte escrita dispomos também do que dizemos, e as transliterações entre culturas e idiomas são saladas onde nem mesmo a Grécia ousaria cravar suas raízes! De tudo a concatenação sabe um pouco e a técnica micro industrial pode se tornar um ótimo referencial de lucro, porquanto todo um gigantesco farnel tecnológico – a bem saber, o sal da técnica – pode ser ombreado apenas com toda a facilidade e velocidade produtivas: de um lado, grandes equipes de técnica, de outro, grandes volumes de peças com pouca técnica: fabricadas a preço competitivamente relativo, em uma economia de controle que permite igualmente com parques fabris gigantes dando suporte ao desenvolvimento paulatino e paralelo a uma inteligência superior enquanto integrativa, dentro de um molde que, para um país em desenvolvimento, pode até gerar contextos de ajuda mútua no compartilhamento de insumos e matérias-primas. Então, há arte no ideograma? A certeza é cultural, pois sempre foi e será a escrita sem o cuneiforme lógico da impressão quase fechada, dando margem ao gesto, dando de se respirar a serenidade oriental de um mestre que mantém em si milênios de história e cultura.


Nenhum comentário:

Postar um comentário