sábado, 26 de março de 2022

MEDALHAS DE CHUMBO

 

         Fatos de um outono quase inverno se nos aguardam nos dias ilusórios de nossos consentimentos, talvez uma medalha de um verniz escovado nos espere no final da raia, mesmo que o pódio não seja largo o suficiente para cinco e quem sabe o quarto e o quinto consigam receber lauréis atrasados, porém cunhados com chumbo, ao que a alquimia pudesse ou quisesse recriar a substância anímica do ouro, em seus aspectos de vitória falsa… Fatos que nos relembrem os dias de doenças terminais, de uma África solapada pela miséria, de um negro ocupando um lugar em meio a selváticos e ignorantes brancos, em sua completude de corpos fabricados. O receio não seja ocupar a mente total e irreparavelmente, posto em uma tentativa de xeque os peões mais inteligentes cobiçam as suas posições com cautela, e geralmente conseguem obter o mate no final do tabuleiro, com aquela rainha que do nada se pronuncia e resguarda a investida do nada, pois estamos apenas jogando. O que se joga no mundo? O que se joga no muro? Tentativas, talvez, não mais do que pressuposições de um atavismo em que não nos apercebemos que no império da ignorância a técnica geralmente prevalece sobre as leis. Não há contenda e nem adversários à altura do que se espere seja a redenção dos inocentes, posto a culpa existir sempre de algum modo, nos dias de truculência da atualidade, onde os monstros já aparecem sem as máscaras que de um jeito ou outro, outros desfizeram na base do descaso e da imprudência, quando efetivamente necessárias em uso e condição própria para tal.
        Essa falta de discernimento ao menos alimenta pensamentos recorrentemente lúcidos, independentes de quaisquer referências históricas, posto sejam eles apenas para elucidar o aparentemente caos em que se governa o planeta como um todo, em seus focos pontuais… Uma das leis que podem ajudar a saber sobre o que ocorre na realidade é ver que a plataforma das coisas que são gerenciadas por observadores sabe melhor do que há por trás da efetividade harmônica do que se espera seja o berço de um processo de civilização. Essa quase compulsória veia integradora se torna moeda corrente naqueles meios onde o furor que deseja hedonisticamente o planeta se vê transformador através da exploração quase tântrica da sexualidade humana, tornando o prazer algo como predação, ou ilusória manifestação dos sintomas de normalidade aceites pela sociedade, apenas comparado ao deleite histriônico que os mais velhos e ditos sábios da sociedade requer que seja o jogo do ou ao poder, e similares. O poder pelo poder torna-se a semântica aceita, quase como a maior referência histórica, enviesando no viés do que um processo efetivador de transformação da sociedade perde lugar para os histriônicos players da hegemonia planetária, derivando a libertação para períodos eletivos, na construção sistêmica de uma rodada de negociações sinistras a cada pleito, coadjuvando com forças tão poderosas quanto sem efetividade, na mesma lógica de romper o bambu para depois esperar que nasça, e não deixar que o vento apenas o mova naturalmente, em um movimento de resiliência onde nada do que se tem de real venha a fenecer, o que remonta na consolidação de um Estado progressivo e permanente, sem depender da ilusória concordata em que se transformou a democracia nos tempos contemporâneos em países vários de nosso mundo. Em outras palavras, evitar o enriquecimento dos extratos sociais através de velhas receitas de exploração, onde a catástrofe natural e humana seja a razão primeira da melhoria social com a dívida impagável nos estragos que exercemos sobre as reservas naturais e intocáveis de nossos países, a começar – como sempre – no que ainda resta nas Américas, África e Ásia.


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