domingo, 2 de janeiro de 2022

QUE O ENCAIXE SEJA BEM-VINDO

         Nada do que nos apercebemos – em um ano que se inicia – será de uma vã tentativa de nos relacionarmos com aqueles que merecem todo o afeto, ou todo o carinho que podemos dispor, como um serviço devocional – bhakti yoga –, o serviço de amor a Deus. Tudo é consequência desse ato, transcrito nos Vedas, em uma fonte maravilhosa onde estas escrituras nos revelem a questão mais importante, que é a tolerância que um devoto tem com relação a seus semelhantes. Temos que ser mais humildes do que uma palha na rua, termos uma fé inquebrantável, e escrever sobre isso é como encaixar uma peça importante que vai de encontro à compreensão da Natureza… Uma peça que, de início, é quase oculta por extremas dificuldades, onde por vezes sucumbem os melhores geômetras frente ao desafio, no olhar que a nossa racionalidade pode nublar esse tentar, essa maneira de resolver questões aparentemente impossíveis mas que, por vezes, uma criança consegue uma solução, o que mostra um encontro de gerações em que envidamos horas, ou conseguimos em minutos. O encaixe é uma questão a que me refiro seja anímica, espiritual… Quantos dias passamos por vezes a nos sacrificar, a termos que disciplinar-nos, a estar presente em uma reunião onde as atmosferas podem rudemente se altercar veladamente, ou quando encontramos pessoas que, apesar de suas idiossincrasias particulares, podem voltar o olhar – extremamente focado – no que é de tradicional, no que compreende a lógica que emane do encontro, e não da diáspora. Essa lógica que existe no olhar do Supremo Senhor, traduzido pela Sol e seus encarregados, como Vivasvan. Acaba-se por criarmos certa engenharia copista para encaixarmos peças materiais, e isso funciona dentro mesmo do projeto, a não ser que seja externo esse engenho. Por sabermos um pouco mais, existirá sempre o interesse da ciência, não apenas através da matéria, mas igualmente o que vem a ser religare, religação em latim, emanando daí a palavra religião: o que ata, o que une.
          Não há transversalidade no pensamento religioso que não seja coerente com o Senhor Supremo, ou seja, que seja ganancioso, na vã tentativa de prosperidade material usando a palavra como pano de fundo, como entrave, como comércio. Essa assertiva não é propriamente crítica, mas reside no domínio mesmo de que a lógica pontua a favor dessas questões, em que os Testamentos igualmente nos revelem o fato consumante de uma Ordem maior do que a dita ganância e especulação cristã a respeito de qual escritura seja mais evidente ou superior do que outra. Não se deve pensar na religião como algo afeito a um grupo etnicamente “escolhido”, uma razão pura ou coisas similares em essência. Esse pensar que eleva soberbamente verdadeiras multidões por vezes recriam coisas parecidas com as Cruzadas, ou estigmatiza o aspecto do colonizador como ideia premente na intolerância, desrespeito à cidadania no que se refere à preferência religiosa, quando se trata de um totalitarismo ou fundamentalismo cego. Sempre é bom e auspicioso encaixar as peças com um olhar espiritual, e esse animismo, esse estado da psique revela-se um modo de atrair a Verdade ao mesmo olhar: sobre o outro e sobre nós mesmos. Esse querer da verdade por vezes carece de uma estratégia existencial como ferramenta indispensável para conseguirmos os objetivos pretendidos, no que o tratado Homo Ludens, de Huizinga nos esclarece, assim como todos os guias onde se aprende essa ciência. Um exemplo simples é o jogo de xadrez, onde temos de estudar as aberturas, o desenvolvimento e a finalização, pois sem esses conceitos ajudaremos nosso próprio fracasso, quando o rival por vezes desequilibra o entreter-se, quando de mais ajustado ao processo do jogo. Assim também ocorre com o GO, jogo este deveras antigo e tradicional mas que, aparentemente mais simples que o xadrez, suplanta este nas infindáveis possibilidades matemáticas em seu tabuleiro, em termos de AI.
          Em resumo temos, por hora, questões que não podemos resolver, mesmo estando em um único contexto, assim como podemos, dentro de uma esfera reducionista, resolver outras que transcendam a própria contextualização, o que vem a dar nos costados espirituais, posto a receita milagrosa pode estar em uma escritura sagrada, seja esta de qualquer religião ou credo. Assim como podemos teimar em sermos reticentes conosco, podemos, por outro lado, abrir nossa visão no viés libertador, conferindo o ganho maior, tanto espiritual como materialmente, com união, com mudança de paradigmas e com o crescimento para nos tornarmos frutos exemplares de uma árvore com raízes no conhecimento e no bom proceder.


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