Nada do que nos
apercebemos – em um ano que se inicia – será de uma vã
tentativa de nos relacionarmos com aqueles que merecem todo o afeto,
ou todo o carinho que podemos dispor, como um serviço devocional –
bhakti yoga –, o serviço de amor a Deus. Tudo é
consequência desse ato, transcrito nos Vedas, em uma fonte
maravilhosa onde estas escrituras nos revelem a questão mais
importante, que é a tolerância que um devoto tem com relação a
seus semelhantes. Temos que ser mais humildes do que uma palha na
rua, termos uma fé inquebrantável, e escrever sobre isso é como
encaixar uma peça importante que vai de encontro à compreensão da
Natureza… Uma peça que, de início, é quase oculta por extremas
dificuldades, onde por vezes sucumbem os melhores geômetras frente
ao desafio, no olhar que a nossa racionalidade pode nublar esse
tentar, essa maneira de resolver questões aparentemente impossíveis
mas que, por vezes, uma criança consegue uma solução, o que mostra
um encontro de gerações em que envidamos horas, ou conseguimos em
minutos. O encaixe é uma questão a que me refiro seja anímica,
espiritual… Quantos dias passamos por vezes a nos sacrificar, a
termos que disciplinar-nos, a estar presente em uma reunião onde as
atmosferas podem rudemente se altercar veladamente, ou quando
encontramos pessoas que, apesar de suas idiossincrasias particulares,
podem voltar o olhar – extremamente focado – no que é de
tradicional, no que compreende a lógica que emane do encontro, e não
da diáspora. Essa lógica que existe no olhar do Supremo Senhor,
traduzido pela Sol e seus encarregados, como Vivasvan.
Acaba-se por criarmos certa engenharia copista para encaixarmos peças
materiais, e isso funciona dentro mesmo do projeto, a não ser que
seja externo esse engenho. Por sabermos um pouco mais, existirá
sempre o interesse da ciência, não apenas através da matéria, mas
igualmente o que vem a ser religare, religação em latim,
emanando daí a palavra religião: o que ata, o que une.
Não
há transversalidade no pensamento religioso que não seja coerente
com o Senhor Supremo, ou seja, que seja ganancioso, na vã tentativa
de prosperidade material usando a palavra como pano de fundo, como
entrave, como comércio. Essa assertiva não é propriamente crítica,
mas reside no domínio mesmo de que a lógica pontua a favor dessas
questões, em que os Testamentos igualmente nos revelem o fato
consumante de uma Ordem maior do que a dita ganância e especulação
cristã a respeito de qual escritura seja mais evidente ou superior
do que outra. Não se deve pensar na religião como algo afeito a um
grupo etnicamente “escolhido”, uma razão pura ou coisas
similares em essência. Esse pensar que eleva soberbamente
verdadeiras multidões por vezes recriam coisas parecidas com as
Cruzadas, ou estigmatiza o aspecto do colonizador como ideia premente
na intolerância, desrespeito à cidadania no que se refere à
preferência religiosa, quando se trata de um totalitarismo ou
fundamentalismo cego. Sempre é bom e auspicioso encaixar as peças
com um olhar espiritual, e esse animismo, esse estado da psique
revela-se um modo de atrair a Verdade ao mesmo olhar: sobre o outro e
sobre nós mesmos. Esse querer da verdade por vezes carece de uma
estratégia existencial como ferramenta indispensável para
conseguirmos os objetivos pretendidos, no que o tratado Homo
Ludens, de Huizinga nos esclarece, assim como todos os guias onde
se aprende essa ciência. Um exemplo simples é o jogo de xadrez,
onde temos de estudar as aberturas, o desenvolvimento e a
finalização, pois sem esses conceitos ajudaremos nosso próprio
fracasso, quando o rival por vezes desequilibra o entreter-se, quando
de mais ajustado ao processo do jogo. Assim também ocorre com o GO,
jogo este deveras antigo e tradicional mas que, aparentemente mais
simples que o xadrez, suplanta este nas infindáveis possibilidades
matemáticas em seu tabuleiro, em termos de AI.
Em resumo
temos, por hora, questões que não podemos resolver, mesmo estando
em um único contexto, assim como podemos, dentro de uma esfera
reducionista, resolver outras que transcendam a própria
contextualização, o que vem a dar nos costados espirituais, posto a
receita milagrosa pode estar em uma escritura sagrada, seja esta de
qualquer religião ou credo. Assim como podemos teimar em sermos
reticentes conosco, podemos, por outro lado, abrir nossa visão no
viés libertador, conferindo o ganho maior, tanto espiritual como
materialmente, com união, com mudança de paradigmas e com o
crescimento para nos tornarmos frutos exemplares de uma árvore com
raízes no conhecimento e no bom proceder.
domingo, 2 de janeiro de 2022
QUE O ENCAIXE SEJA BEM-VINDO
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