Vibrações
espirituais, como em um despertar, remontam um aspecto onde o ser se encontra
com sua espiritualidade mais profunda, seu centro de vitalidade, seu imo, a sua
realidade espiritual, ou Svarupa. Quando sua Natureza é percebida, quando o ser
se identifica com a sua citada situação espiritual, seu semblante da realidade
anímica, seu self, na melhor acepção científica, se houvera de tal conformação,
nos moldes de Jung, se torna aquilo que em sânscrito significa a tapasya, ou
austeridade, penitência, algo de disciplinador que nos tornará melhores nesse
requisito, e nos trará de volta ao imo mais profundo. Essa realidade, ou identidade
espiritual se torna algo fundamental para que a clareza da consciência nos faça
largar um vício que nos estarrecia diante daquilo que sequer podíamos lidar, na
presença da substância, ou na intercorrência de esperar renitentemente até
acender o próximo cigarro... Haveremos de nos fiar quiçá em um semideus como
Shiva, se nos apercebermos que apenas Ele ou mesmo o mantenedor de tudo, que é
Krsna, pode nos fazer largar tamanho vício. Dura por vezes é a seara da
penitência, grande é o sacrifício, mas um devoto de Deus deve ter um autocontrole
e segurar a rédea dos cavalos inquietos dos sentidos para levar o espírito que
está dentro da carruagem para um lugar mais sóbrio, em todos os sentidos, não
se permitindo mais poluir a sua mente e corpo sob a ilusão de Maya. Shiva, em
sua dança cósmica, refaz a sua Natureza, depois de emergir dos Himalaias com a
meditação profunda e a gana de estar vivendo na floresta, depois de passar
séculos meditando nas cavernas geladas...
Quiçá
um mito gigantesco, quiçá a força espiritual de Shiva e sua eterna consorte,
Parvati, com Ganesha e Kartikeya, seus poderosos filhos, relembrando que antes
Sati teria sido sua esposa e foi para o sacrifício em sua pira interior, em que
Parvati fora a sua reencarnação, quiçá esse mito ou realidade fora o suficiente
para um devoto parar com qualquer tipo de restrição à sua espiritualidade, imitando
os passos desse maior devoto de Krsna... Esse despertar espiritual, finalmente
alcançado pelo devoto o limpara da poeira acumulada de milênios de nascimentos,
e o salvara dos grilhões que o atam a Prakti, ou Natureza Material, o fazendo
transcender os modos da citada Natureza, como a bondade, a paixão e a
ignorância. Mito ou realidade, o espelhamento fiel da vertente que une o devoto
à sua própria tapasya, ou austeridade: à sua penitência descrita, esmiuçada,
sentida, tudo que lhe vem à tona nessa senda, um retorno à espiritualidade mais
plena, justificando esse citado sacrifício para se ter uma real dimensão do que
seria a dependência tabágica e quanto mais esse “custo-benefício” anímico pode
lhe proporcionar. Tudo é válido no cosmos, tudo que se nos apresenta em um despertar
podemos tirar como proveito, e o hálito quente do sofrimento por vezes nos
perpassa como uma língua de fogo que não queima, e devemos estar fortes para
suportá-lo.
O devoto
deve buscar o silêncio, meditar em suas palavras, não tergiversar com o
hedonismo, se alimentar de prashadam, estar em harmonia com as coisas naturais,
contemplar o mar e seus pássaros, não sair muito, estar em grupos de
recuperação, mas, quando estes especulam demais e demandam esforços afetivos
sem conta, estar preparado para mais e mais sacrifícios, pois na realidade
estar solitário é o mesmo caminho de Shiva para alcançar a iluminação e atender
às exigências da alma.
A
medicina talvez acreditasse ser quase impossível para um enfermo das compulsões
dar conta do recado, mas na realidade tudo é possível quando temos a fé. Não se
conte o tempo, deixemos que flua a vida, tal como ela é, e concebamos um Poder
maior do que nós mesmos na forma em que se apresente, seja ele Deus ou não...
Mas, para ser sincero, crer em Deus é algo que sobremodo nos leva adiante em
duras jornadas rumo a estarmos limpos.
Os
sacrifícios e penitências citados não acontecem todo o tempo, mas em fases
críticas, e será nos momentos onde a vontade de fumar acontece que devemos
estar praticando, sempre levando em consideração que estaremos no caminho de
tornarmos a obter a posição de Svarupa, ou nossa essência espiritual única,
nosso ser, ou nosso self, na linguagem de Jung, para ser mais claro na acepção
da medicina. A maravilhosa medicina da atualidade que crê na espiritualidade como
fator importante na libertação de um adicto, ou mesmo quando largamos o alcoolismo.
Jamais será uma jornada impossível para um fumante largar do vício do tabaco,
pois quando temos um despertar espiritual, quando retornamos finalmente para
uma posição espiritual, solitariamente, ou em companhia de diletos companheiros
e companheiras, isso se dá na maneira nada traumática, mas por vezes requer
severa disciplina e autocontrole. Efetivamente, quando não queremos mais algo,
espiritualmente buscando apoio e ajuda nos Shastras e outras escrituras,
estaremos em vias de nos libertar da substância, seja qual for ela.
O nosso
propósito sempre deve ser de Natureza da alma, e se nela possuímos alguma dor,
devemos nos purgar o sentimento de que, por essa via de purificação, possamos
redarguir ao nosso mais profundo eu aqueles obstáculos que nos impediriam de
viver uma vida plena, enumerá-los inconscientemente, e buscar na salvação
espiritual o bem maior que é estar livre de um vício que demandaria sermos consecutivamente
agentes e vítimas de nossas atitudes.
Pela
visão da psiquiatria, sempre é difícil deixar o vício do tabagismo, porte-se ou
não comorbidades psíquicas, posto a tolerância zero por vezes pode parecer algo
quase inverossímil por vezes, no caso de um fumante de décadas a fio... O que
importa é sabermos que já existem áreas do saber onde a questão espiritual toma
vultos onde a ciência ainda não alcança significados maiores, tal a vastidão cerebral,
ou mesmo a vida do espírito, que nosso corpo contempla como seu templo. O
importante é sabermos que depois de feita toda uma explanação a respeito de um
despertar espiritual, que continua a ter na nossa lembrança forte conteúdo
mental e espiritual, não reincidamos no tabagismo e ao menos tentemos reduzi-lo,
se possível, a margens terapêuticas de acordo com as premissas da medicina pneumologista,
posto a questão é no fundo estarmos cumprindo as metas, e se prosseguirmos
praticando a austeridade e a penitência resilientes, provavelmente venceremos
essa guerra contra o tabagismo.
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