domingo, 20 de abril de 2025
O canto da Internacional em Reds desempenha exatamente o mesmo papel que o som de cachoeira em A filha de Ryan: o papel do crivo fantasístico que nos permite suportar o real do ato sexual. Reds integra a Revolução de Outubro − para Hollywood, o mais traumático evento histórico − no universo de Hollywood encenando-a como pano de fundo metafórico para o ato sexual entre os protagonistas do filme, John Reed (interpretado pelo próprio Warren Beatty) e sua amante (Diane Keaton). No filme, a Revolução de Outubro ocorre imediatamente depois de uma crise na relação dos dois. Pronunciando um inflamado discurso revolucionário para a multidão turbulenta, Beatty mesmeriza Keaton; os dois trocam olhares desejosos, e os gritos da multidão servem como uma metáfora para o renascimento da paixão. As cenas míticas decisivas da revolução (manifestações de rua, a invasão do Palácio de Inverno) se alternam com a representação das relações sexuais do casal, contra o pano de fundo da multidão cantando a Internacional. Mas cenas de massa funcionam como metáforas vulgares para o ato sexual. Quando a massa escura se aproxima do fálico trilho de bonde, não é isso uma metáfora para Keaton que, no ato sexual, desempenha o papel ativo por cima de Beatty? Aqui temos o exato oposto daquele realismo socialista soviético em que amantes experimentariam seu amor como uma contribuição à luta pelo socialismo, prometendo sacrificar todos os seus prazeres privados pela causa da revolução e afogar-se nas massas: em Reds, ao contrário, a própria revolução aparece como uma metáfora para o embate sexual bem-sucedido. COMO LER LACAN.
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