Que se tentasse uma veia no deserto, que o gesto anunciasse mais um verão que não houve na plenitude, mas quem dera, a moça jovem faz das suas para sobreviver: vende seu corpo, e há os chauvinistas que o fazem ela ser quem é porque acreditam piamente que isso faz parte da condição da mulher… E olham, miram para o cidadão de rua, o simples catador de alumínio, com seu saco, um legítimo representante da miséria humana e, vejam só, essa condição já vira profissão de fé, algo como caminhar, pelas ruas geladas do inverno, com sapatos crus de usados, a noção evidente de que no fim da linha esse direito cidadão servirá para que o homem compre o seu corote ou, o que é mais festivo, ainda consiga comprar uma pedra de crack, quem sabe quando pago na cooperativa com suas próprias e burocráticas lideranças, pois surge então o imposto… Mas, quem sabe, talvez seja mesmo uma profissão, talvez uma saída em se propor que o profissional, assim como a/o profissional do sexo, seja a profissão mais antiga do mundo, assim como o garimpo, assim como aquele que faz investimentos, tudo uma única moeda, o valor em um trabalho, em que o esforço e a faculdade de uma nação em combater a citada miséria seja dar atenção para o que não muda sem a existência da informalidade, conferindo por vezes um caráter de marginalidade a essas pessoas com vulnerabilidade social.
E o medo propriamente, o medo suprassumido de não se ser nem o que é o ser humano, de não ver por não querer ver a problemática da dita miséria, se ocultar dentro de uma realidade aproximativa, pois a vivência com álcool e drogas revela a tenuidade entre os limites que impõem essa condição humana, quando um ser qualquer dessa natureza de trabalho e de postura, já não possui mais lar, dorme na rua, tem que disputar espaço e usar a mochila como travesseiro para não ser furtado…
Quando se olha por essas populações, essas minorias, se olha para a frente, pois essa realidade ocorre na nossa frente, na frente de um camaro, de um porshe, de um mercedez, ou ainda quando caminhamos em direção a esses carros desejando no íntimo que não haja miseráveis nas ruas porque eles incomodam nosso viver, o que traduz o canto do fascismo em níveis previsíveis, quando se infere “eliminar” ou prender os miseráveis, os negros de rua, por serem negros de rua, ou a pobreza que não pode consumir nesse mercado ditatorial que se torna o primeiro poder, a alavanca mestre do sistema, e tudo o que ameace esse status, principalmente um Governo Popular que tenha preferência em sanear o país e melhorar a vida de seu povo é combatido pelo mesmo fascista que nega a sua condição inequívoca e mesquinha de ser cúmplice desse sectarismo de orquestra de um coletivo de apenas um instrumento e nenhuma música real.
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