sexta-feira, 26 de julho de 2024

A COR DO SILÊNCIO

 

       Por vezes a vida soa como uma página silenciosa, como um livro em branco, onde a caneta esteve escrevendo com uma tinta efêmera, os sentimentos quase ausentes na profusão de almas que estariam comprometidas com tudo aquilo que as instrumentalizara na antevéspera de seus poentes… Não que não oferecesse uma distância, aquilo da presença concreta, não, se faria o revés, o contato naquilo do possível, cada ser em sua distância, o simples murmúrio de um trabalhador, o simples gesto de carregar um tijolo para a meada, o virar a massa, ou um garçom afeito a arrumar o que seria uma nova jornada de trabalho, ou o serviço do servidor, ou mesmo a anuência de uma guarda.

       Na vida das palavras, se é que se poderia dizer algo parecido, o significado ulterior seria dado na mesma medida em que a música das sílabas ao menos fosse compreendida na leitura, e que simplesmente uma questão progressiva de alguém que tivesse estado durante grande parte da existência embriagado pelas dificuldades ou das bebedeiras do destino, houvera um despertar permanente, circunscrito ao mesmo ato de cada letra, à sua conjunção de sílaba, e ao lógico preceder dos predicados.

       A freira vista na faixa de pedestre, o carro em seu marulho soturno de motor longevo, o motorista fiel à Igreja, e outro templo o esperaria dentro de sua fé, não seria o tanto, mas na vida da religião o mantra ou as rezas sagradas seriam o fato indescritível da fé que não levaria mais do que o mesmo tempo de se dizer algo em confissão, ou de se prostrar a Krsna aquele devoto que ainda não conseguira ler os Shastras corretamente. Mesmo porque a coisa mundana urge que compreendamos certas técnicas do fazer e elaborar, urge estudarmos os textos filosóficos da própria questão da ciência material, pois o vocabulário do mundo é uma transformação conexa com a matéria do per si, e mesmo que tivéssemos toda a sapiência de algumas doutrinas importantes para uma reflexão sucinta a respeito de nossos trabalhos mais particulares, a própria história significa ao religioso uma influência cabal e necessária à compreensão mesma da Economia e suas leis, pois a sobrevivência do ser humano e de sua carne infere a compreensão daquilo que porventura mantém o espírito e o corpo unidos, no mínimo.

       Validar o escopo do conhecimento é não retroceder ao conhecido pura e simples, e o empirismo lato por vezes não reduz em seu pragmatismo a doutrina intrínseca de que se busque na lógica e sua subjetividade a questão inerente aos sistemas transacionais de operações quase mecânicas que vencem por hora o cartesianismo das rotinas. O empírico em si, a experiência, nada mais é do que a mesma semântica do impulsionar a energia transformadora em outra questão, do estímulo e resposta, do ensaio e do erro, onde por vezes a doutrina de Hegel disserta melhor a questão quando suprassume a história e a análise de seus desdobramentos como conhecimento inequívoco, um tipo de jurisprudência do que era o empírico, do que já fora a experiência, e do novo que surge, como a interpretação dialética do que se suponha o não saber, ser a vertente mais ampla do vácuo existencial, uma seara fértil para que a mesma dialética coloque o conhecimento dentro do vazio, e os poros internos se abrem para uma nova compreensão da mesma linguagem estanque que, no entanto, infere, com roupagem distinta, a redução para fora de nós mesmo uma completude efêmera, onde se ganha com um sistema e sua performance, mas se perde no vazio o que não é “dado ou informação”.

       O non sense toma a dianteira como algo de mentira que forjamos, a exclusão de traumas se torna mecanismo de cura individual, mas no escopo de grupos e mais grupos, a perlaboração se torne necessária a partir de lideranças onde o factível expressivo seja aquela modalidade de se gestualizar um fato, um algo, um alguém ou mesmo uma ideia, projetada dentro de todo um contexto, na busca e na consonante expropriação da atenção subliminar, dentro do imo consciente, como se a esfera do inconsciente ressurgisse como paradigma factual, como reserva racional, no treinamento de que haveria a possibilidade de se fazer emergir dentro do caos organizado, uma economia de sensualidade cognoscível, ou seja, um superego que racionalizasse e andasse lado a lado com o id, sendo parcela substancial em uma dialética onde já não houvesse a separação dessas duas entidades psíquicas, e onde a dita reserva se processasse dentro da esfera concreta do ato e do gesto realmente consciente, onde os recalques seriam postos à prova como o oco ou o vazio preenchido, a angústia transformadora, ou o controle, em síntese, com a catarse da transcendência. 

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