sábado, 20 de julho de 2024

A CONFECÇÃO DE UM PRESSÁGIO


       Pois sim, que a vida de todos conta. A vida do per si, e encontrarás no peito de teu pior inimigo aquele sopro vital, que é de um perdão que a ele não se passa, mas de sua ternura ao menos possam passar lado a lado em uma calçada, naqueles dias de chuva onde a moça que a tudo vê é aquela que jamais esquece a sombrinha. No momento de um tempo em que você esquecera e, tomado pela luxúria – sentimento esse que leva à ira -, treinando com sua haste de madeira as artes marciais, vê o que projetasse ser aquele que o trairia, e não se contém você, e vê uma rocha marinha na areia, e golpeia a rocha, e a madeira se parte, e tudo que lhe pediram, que guardasse de alguma forma e que teria que ser forte, um sonho? Intuitivamente, quiçá, um erro, defletir na ação uma agressão na pedra, e a reparação se faz necessária, e você caminha hoje, e por vezes por questões outras, novamente o pensamento da luxúria, e a ira quer retornar, e você deve saber de uma vez que este é um sentimento que a tudo devora, que a ira não seria algo mais nobre do que o franzir do cenho de Brahma, quando criara Shiva, e que este nada mais é do que aquele ser que não gosta de sair do seu estado de contemplação, que não gosta de estar fora dos Himalayas, nem quando Parvati, sua consorte, o segue para ter com ele, posto não haveria a possibilidade do encontro antes de se conceber seus dois filhos: Ganesha e Kartikeya. Mas faria parte do encontro a consciência de Parvati que se encontrasse com sete círculos do poder, com dificuldades tamanhas, antes de ter acesso, e isso não seria mais coisa nos tempos em que jamais Ganesha viria, pois o Removedor dos Obstáculos passa a ser Govinda, e estaria em todas as partes, naquele conhecimento mais confidencial, que transcenderia tudo e todos, e toda aquela literatura de embasamento de cartilha, passa a ser apenas mais um apanágio de leitura cabal, especulativa, pois seria na mesma Índia que todas as divindades estariam hoje sabendo do renascimento espiritual da humanidade, e a religião, no seu aspecto de Religare, do start profícuo do planeta, será finalmente algo possível…

       As questões primeiras da paz, as questões primeiras das batalhas internas do ser, de Kurukshetra de nós mesmos, do encontro com Bhakti, do serviço devocional, seria algo mais importante do que tudo, seria uma recuperação sem limites, seria algo tão importante do que uma clínica total, seria algo de medicina suprema, quiçá do benfazejo modal de se ter acesso a que outros adquirissem níveis de consciência majorados, se perfizessem na latitude do encontro com uma meditação na Natureza, nos seus diálogos e na questão que se diga serem importantes, pois quando o Gita diz para se ficar pelo menos no modo da bondade, também que sê-lo diga que estarmos no modo de respeito à mesma Natureza citada seja de igual importância.

       Obviamente, um despertar espiritual ou uma experiência mística quiçá seja uma referência ou insumo a que tenhamos visto a Verdade que nos dê o suporte. Mas, por vezes, isso passa a acontecer – esse despertar – no alvorecer de cada manhã, e isso já é uma vida de sublimação constante dos nossos ruídos existenciais, um modo de ver que a psique, se for olhar para o viés da medicina, um modo de se viver plenamente... Transcende a matéria pura e simples, tudo o que implica o retorno de estarmos vendo e revendo a vida tal como é não em sua eternidade, mas no exato instante de um dia, que seja, e esse mesmo despertar, para que a vida possa resultar em uma realização intelectual demandou de estudos, e esses estudos são o esforço e a estrutura necessária para que, mais e mais, se possa argumentar a favor das coisas anímicas ou espirituais. Para que o presságio mais nobre seja a confecção de que esse mesmo pressagiar-se seja uma mensagem para que todos tenham acesso a um conhecimento que possa ser compartilhado por alguém que já possua uma experiência em que quiçá tenha sofrido o suficiente, e que tenha passado por portas perceptivas que – que se volte a citar – elucidem as questões máximas da releitura do bem portar-se na sociedade. Mas, no que se infira levar a vida com a honestidade necessária, de saber que aqueles que dela se distanciam, quiçá a simples questão de ter a espiritualidade no quinhão mais profundo será por vezes a superficialidade das palavras tão somente, com os silogismos fracos da especulação estéril, porquanto excessivamente materialista.

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