Há que
se transcrever a realidade de uma patologia de ordem mental, tal como a
neurose, ou as psicoses e suas formas, na margem em que se acomete a aparente “falta”
do paciente estar submerso nessa condição... Perante a sociedade, parece que há
uma hierarquização dos problemas recorrentes dos males psíquicos, ao estigma
excludente e comprobatório das drogas psiquiátricas, em que muitos afirmam que
estas são quase drogas que mudam o humor, e na verdade são aquelas que vão ajudar
o paciente a estabilizá-lo, a fazê-lo ter a possibilidade de um retorno à vida
social, ao que se torne a normalidade, que grande parte dos que se consideram “normais”,
mesmo tendo graus de neurose agigantados, criticam com suas vozes que coagem o
que chamam de loucura como se o portador da doença mental tivesse que carregar
uma culpa, onde o que se chame estigma, poderia se chamar rótulo, verdadeiro o
calibre da indiferença humana perante aqueles que se dignam pensar em conviver “ainda”
sem a máscara do preconceito, ou a verve cáustica do capacitismo.
As
origens de certas neuroses podem ser tratadas, assim como certas formas de
psicoses, como a esquizofrenia podem estar sendo psicanalisadas, e não é
compulsório o internamento, pois o que torna a situação mais grave é quando o
paciente ingere álcool ou drogas, pois silenciosamente estará agravando os seus
problemas, ou quando, em seus delírios, ou no mecanismo de forclusão evidenciado
por Lacan, recusa-se a ver-se em sua própria circunstância, como em um tipo de
defesa onde o psiquiatra vira o médico necessário para o tratamento, mas quando
o paciente vê-se de fora ao seu problema, a psicanálise pode e deve ser possível...
O
estigma dos remédios psiquiátricos vira algo de suma ignorância naqueles que
mal podem ver as vantagens da farmacopeia contemporânea, suas drogas que inibem
tendências depressivas que podem levar ao suicídio, ou mesmo psicopatias graves
onde os delírios da paranoia cessam ou são atalhados pela intervenção da
medicina. Nada estaria tão pronto no ar, as notícias e o desenvolvimento dessa
ciência tendem a ser dialéticos no sentido de rebatimentos e ulteriores
descobertas, com frentes de se combater as doenças com novos meios, e uma
questão humana de suma importância, desde uma simples neurose, até a
esquizofrenia paranoide, em todas as suas derivações, que podem ter enlaces os
mais variados, pois até mesmo a sexualidade infantil encontra em pontos de
fixação algo tão abstrato quanto o discernimento de um bom analista em
descobrir um trauma ou uma regressão.
Mesmo
nos casos onde a cultura de todo um continente se torna fremente no berço de
uma tendência religiosa aparentemente unificadora, cristã ou ortodoxa, a questão
religiosa, no caso de psicoses mais graves, pode infundir recaídas profundas, mas
quando a abertura da consciência individual faz parte de um processo maximizado
da consciência, esses males tendem a se equilibrar, e o caminho do crer se
torna um verbo essencial à estrutura mental e espiritual do ser.
Haja
vista a descoberta da medicina há primórdios, a importância de se ressaltar a
grandeza de Freud e seus pensamentos a respeito da psique humana é
recorrentemente um fator indissociável da cultura contemporânea, e outros
associados dessa grande plataforma da ciência apenas ampliaram as sintaxes e
outras descobertas, tais como Jung, Lacan, Bion, etc. Não se renomeia uma
virtude a partir do momento que esta tenha provado que surgira para fazer algo
de bom para a humanidade, posto é apenas o que vale por si, e todo o estudo
desses pensadores só reafirmam a seriedade com que encararam os desafios para
agregar no mundo a vitória do homem sobre os males mentais de muitos que foram
salvos com esses estudos.
Graças
à figura de um bom médico psiquiatra, ou um bom psicólogo, os pacientes que
antes eram estigmatizados em priscas eras como alienados, hoje já podem viver
com mais oxigênio e socialmente, junto aos familiares, constituindo outras
famílias, tecendo vidas normais e afetivamente saudáveis, quando nos
apercebermos que, apesar de rotularem muito daqueles que pensam de modo assaz conservador
frente a um pressuposto atávico, como foi sempre o estigma da loucura, aquilo
que se processe no meio social seja algo aglutinante, e não perscrutador tão
somente do que é diferente, de um tipo de comportamento mais complexo, ou de
uma atitude que aparentemente cause algum ruído pela questão de ser mais
autêntica perante o gris que se tornou a sociedade contemporânea em muitos
nuances existenciais, carregando solitariamente felizes sonâmbulos para a
redoma de um mundo altamente finito.
É sob
essa ótica que devemos construir nossos egos, de forma a constituir uma
coletividade onde os grupos sociais sejam equânimes em seus caminhos, e cada
ser se meça com o caráter e a solidariedade da compreensão do próximo, de suas
diferenças, de não se prosseguir passando a borracha na forma excludente de
certos atos e palavras cruéis, não estigmatizando um ser ou, melhor, olhando
para os problemas de uma sociedade e seus enfermos que todos, sem exceção,
fazem parte de um todo maior, que é o todo que cerca a própria totalidade,
parte e fragmento de cada qual, sendo que o imo que une esses laços é tão
possível quanto um aglutinante que um engenheiro químico use para processar um remédio que
seja efetivamente comprovado.
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