terça-feira, 25 de junho de 2024

PSICOPATOLOGIA: RÓTULO OU ESTIGMA


                Há que se transcrever a realidade de uma patologia de ordem mental, tal como a neurose, ou as psicoses e suas formas, na margem em que se acomete a aparente “falta” do paciente estar submerso nessa condição... Perante a sociedade, parece que há uma hierarquização dos problemas recorrentes dos males psíquicos, ao estigma excludente e comprobatório das drogas psiquiátricas, em que muitos afirmam que estas são quase drogas que mudam o humor, e na verdade são aquelas que vão ajudar o paciente a estabilizá-lo, a fazê-lo ter a possibilidade de um retorno à vida social, ao que se torne a normalidade, que grande parte dos que se consideram “normais”, mesmo tendo graus de neurose agigantados, criticam com suas vozes que coagem o que chamam de loucura como se o portador da doença mental tivesse que carregar uma culpa, onde o que se chame estigma, poderia se chamar rótulo, verdadeiro o calibre da indiferença humana perante aqueles que se dignam pensar em conviver “ainda” sem a máscara do preconceito, ou a verve cáustica do capacitismo.

                As origens de certas neuroses podem ser tratadas, assim como certas formas de psicoses, como a esquizofrenia podem estar sendo psicanalisadas, e não é compulsório o internamento, pois o que torna a situação mais grave é quando o paciente ingere álcool ou drogas, pois silenciosamente estará agravando os seus problemas, ou quando, em seus delírios, ou no mecanismo de forclusão evidenciado por Lacan, recusa-se a ver-se em sua própria circunstância, como em um tipo de defesa onde o psiquiatra vira o médico necessário para o tratamento, mas quando o paciente vê-se de fora ao seu problema, a psicanálise pode e deve ser possível...

                O estigma dos remédios psiquiátricos vira algo de suma ignorância naqueles que mal podem ver as vantagens da farmacopeia contemporânea, suas drogas que inibem tendências depressivas que podem levar ao suicídio, ou mesmo psicopatias graves onde os delírios da paranoia cessam ou são atalhados pela intervenção da medicina. Nada estaria tão pronto no ar, as notícias e o desenvolvimento dessa ciência tendem a ser dialéticos no sentido de rebatimentos e ulteriores descobertas, com frentes de se combater as doenças com novos meios, e uma questão humana de suma importância, desde uma simples neurose, até a esquizofrenia paranoide, em todas as suas derivações, que podem ter enlaces os mais variados, pois até mesmo a sexualidade infantil encontra em pontos de fixação algo tão abstrato quanto o discernimento de um bom analista em descobrir um trauma ou uma regressão.

                Mesmo nos casos onde a cultura de todo um continente se torna fremente no berço de uma tendência religiosa aparentemente unificadora, cristã ou ortodoxa, a questão religiosa, no caso de psicoses mais graves, pode infundir recaídas profundas, mas quando a abertura da consciência individual faz parte de um processo maximizado da consciência, esses males tendem a se equilibrar, e o caminho do crer se torna um verbo essencial à estrutura mental e espiritual do ser.

                Haja vista a descoberta da medicina há primórdios, a importância de se ressaltar a grandeza de Freud e seus pensamentos a respeito da psique humana é recorrentemente um fator indissociável da cultura contemporânea, e outros associados dessa grande plataforma da ciência apenas ampliaram as sintaxes e outras descobertas, tais como Jung, Lacan, Bion, etc. Não se renomeia uma virtude a partir do momento que esta tenha provado que surgira para fazer algo de bom para a humanidade, posto é apenas o que vale por si, e todo o estudo desses pensadores só reafirmam a seriedade com que encararam os desafios para agregar no mundo a vitória do homem sobre os males mentais de muitos que foram salvos com esses estudos.

                Graças à figura de um bom médico psiquiatra, ou um bom psicólogo, os pacientes que antes eram estigmatizados em priscas eras como alienados, hoje já podem viver com mais oxigênio e socialmente, junto aos familiares, constituindo outras famílias, tecendo vidas normais e afetivamente saudáveis, quando nos apercebermos que, apesar de rotularem muito daqueles que pensam de modo assaz conservador frente a um pressuposto atávico, como foi sempre o estigma da loucura, aquilo que se processe no meio social seja algo aglutinante, e não perscrutador tão somente do que é diferente, de um tipo de comportamento mais complexo, ou de uma atitude que aparentemente cause algum ruído pela questão de ser mais autêntica perante o gris que se tornou a sociedade contemporânea em muitos nuances existenciais, carregando solitariamente felizes sonâmbulos para a redoma de um mundo altamente finito.

                É sob essa ótica que devemos construir nossos egos, de forma a constituir uma coletividade onde os grupos sociais sejam equânimes em seus caminhos, e cada ser se meça com o caráter e a solidariedade da compreensão do próximo, de suas diferenças, de não se prosseguir passando a borracha na forma excludente de certos atos e palavras cruéis, não estigmatizando um ser ou, melhor, olhando para os problemas de uma sociedade e seus enfermos que todos, sem exceção, fazem parte de um todo maior, que é o todo que cerca a própria totalidade, parte e fragmento de cada qual, sendo que o imo que une esses laços é tão possível quanto um aglutinante que um engenheiro químico use para processar um remédio que seja efetivamente comprovado.

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