Mulher,
J., 34 anos, paciente psiquiátrica de depressão, tomando medicamentos.
É
singular vermos que na síntese final, depois de discorrer tantas coisas
relacionadas à sua negação enquanto mãe, a vontade de apenas dormir, comer,
depois dormir, e nada mais, quando nega que nem os filhos mais gostaria de ver
e que sua mãe é melhor mãe deles, e negar sua vida, que nada dá certo, o
analista lhe pergunta: “... você lembra como foi quando seus filhos começaram a
andar?” Ela responde: “Nossa, eles caíam direto. Andavam ‘tudo torto’, sem ritmo
e sem jeito...” Ou seja, poderiam ser várias respostas, como: eles eram uma
gracinha, eu achava esse desenvolvimento da infância muito rico para mim e etc.
Mas o analista, opondo-se dialeticamente ao discurso da paciente, lhe diz: “E
você estava ao lado deles?” E ela: “Sim sim... sempre...”
Fechando
magistralmente uma análise como poucas, deixa nas entrelinhas e encerra nesse
exato momento, se despedindo da paciente, deixando em aberto o encontro que ela
deixara escapar consigo mesma, de que houvera ser mãe o tempo todo, e tudo que
ela demonstrara de angústia frente ao marido, frente a presença de um Grande
Outro que a tudo a observaria, de estar sufocada por circunstâncias
existenciais profundas, verte na sessão, exatamente naquela última assertiva em
que geralmente Lacan, com sua experiência encerrasse sempre a sessão, pois já
acharia ser o suficiente. A psicanálise não é um processo que acontece apenas
durante a sessão, pois é exatamente em seus intervalos que a dinâmica não
cessa, e a dialética da existência vai se contrapor à experiência única de uma
outra sessão onde porventura as questões mais profundas virão mais
classicamente à tona, quando um insight vira revelação na fala do paciente, de
si para si mesmo...
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