quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

DIÁLOGOS DA NATUREZA


                Qual fôssemos seres humanos isolados de tudo... Teríamos que pensar mais propriamente e com cautela os próximos passos do pensar, como se o nosso universo amplo e dialético com o nosso imo profundo, o nosso ser, não pensasse apenas conosco, com tudo o que dissesse respeito apenas às nossas idiossincrasias perante àqueles “outros” da mesma espécie, considerando, quase como um “sempre histórico” que o restante seria apenas motivação para ou matarmos e comermos a carne, ou usarmos madeira e água, vento e usinas mil, para que nos sustivéssemos na esteira da manutenção de nossa civilização. No entanto, e se os seres que porventura alguns não os conhecem a muitos, e outros só conhecem as formigas porque elas estão meramente presentes, não pudessem saber algo além do que dita a totalidade de uma Natureza e seus diálogos permanentes, ou consigo mesma, no que o homem tanto pesquisara desde primórdios, em culminações darwinistas, sempre tentando buscar a consonância de um materialismo e suas relações com a riqueza e o universo dos valores, no “sempre dialético histórico...” Não que não fora pertinente em uma etapa do conhecimento, mas há uma interpretação maior que carece de mais luzes, e que se torna um devir que urge tomarmos consciência, em um mundo onde estamos produzindo descaradamente para o insaciável mercado produtos que nem sempre acabarão com a fome no mundo, e que porventura reduzem verdadeiras máquinas de abate a uma cruenta forma de infundir a quebra da espiritualidade e o advento das guerras, pois a compaixão entre todos os seres que habitam o planeta, capitaneada pelo agente humano, que é quem dá o poder a si mesmo para decidir o que “faz” com a Natureza, e como a expropria dura e egoisticamente, se torna, por causa desse elemento, algo raro. Algo de estranho em nossos meridianos energéticos mais desequilibrados denota que nossos valores estão em locais onde sempre fora assim, diante da estupefata ciência de não nos darmos conta de que o “valor afetivo” seria algo substancial a ser cultivado, e daí a partirmos para a consciência das existências compulsoriamente importantes dos seres vivos e imóveis sobre este planeta, e uma relação madura do homem que mantém ainda o seu chauvinismo de ideologias de antanho, é rumar para que os conhecimentos orientais venham a dar maiores luzes para esse grande ruído gigantesco que é a crise ocidental de seus valores e falta de conhecimentos relegados ao tudo se permitir, mesmo que isso signifique a sua própria ruína moral.

                A relação do homem com seu entorno, mesmo que seja no começo, em sua primeira célula social, a família, não está dissociada à Natureza, já que em qualquer lugar do mundo há seres que compartilham com o ser humano, seja na forma de um animal doméstico, seja na forma de um inseto, ou mesmo quando estamos gregariamente coexistindo entre nós mesmos enquanto espécie, pois somos meramente mais um tipo de ser que jamais será superior a qualquer outro, posto não temos relações de poder com nada e ninguém que nos faça crer que na Natureza a ordem das coisas subentenda as leis necessárias, mas sempre, no entanto, necessárias como modo de nos organizar, tanto que essas leis são distintas em diversos locais do mundo, e não haverá um processo civilizatório totalmente uniforme nas culturas de homens, abelhas, formigas, ou felinos, posto até em culturas bacterianas as coisas tomam um perfil de independência, e a medicina interfere ou faz uso dessas questões quando se torna necessário para o ser humano, posto na veterinária o trato é com os animais, esboçando já, a partir daí, uma diferenciação de espécies no escopo das sociedades. O que haveria de importante a salientar é a vida espiritual do ser humano, frente aos seres que fazem da Natureza sua grande fonte de gerar a compreensão do mesmo espírito que emana da citada Natureza, não no viés transformador da matéria, mas justamente naquilo que assume a importância capital que é a dita compreensão de que os seres os mais variados tendem a dialogar com o ser humano, dependendo do nível de consciência que este atinge perante o Universo e sua Criação cósmica. Não precisamos ir muito longe para exemplificar alguns movimentos da arte marcial do tai chi, quando um mestre ensina certas posturas, utilizando insetos ou pássaros, serpentes ou dragões, como movimentos concretos, através de observações por vezes centenárias que fazem parte de toda uma cultura, onde o respeito a esses mesmos seres que ensinaram toda essa sabedoria nos facultam ao legado do citado conhecimento ancestral. Essa tradicional ancestralidade nos torna mais aptos para conservar joias tão importantes nas culturas mais antigas, e na realidade poder compartir com outras culturas de cunho mais materialista, esse espírito de comunhão com a Natureza, a contemplação, a meditação, terapias alternativas, o do-in e a acupuntura, como modalidades alternas de modos de se encarar a vida, incluindo aí a medicina ayurvédica, tão importante para que compreendamos também na relação de tudo o que a Índia proporcionou espiritualmente para o mundo contemporâneo...

                Seríamos mais distantes de tudo se nos isolássemos enquanto espécie, mas seremos certamente mais felizes quando percebermos que em um voo de um pássaro, para além de nossa mera imaginação, podemos estar mais em sintonia com um conhecimento ou mensagem anímica de algo, do que sempre compulsoriamente termos que nos fazer valer do celular ou do computador para nos sentirmos vivos e atuantes. A eletrônica é apenas uma rede de sinapses, mas há bilhões de outras, concomitantes, no mundo. Mesmo porque, se consideramos que a presença de Deus nos seres que nos cercam é tão intensa, podemos quiçá compará-la com as infinitas ondas do oceano, ou mesmo as infinitas sementes que são lançadas ao redor de todas as nações do planeta, e umas frutificam mais, certamente, mas quem sabe um dia possamos adubar melhor a terra em torno do nosso próprio jardim espiritual, disso não tenhamos sequer a menor sombra de dúvida: é só termos boa vontade.

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