quinta-feira, 5 de setembro de 2024

A SUBLIMAÇÃO ATRAVÉS DA ARTE


       Termos a ciência de que nossos impulsos são secretos, por vezes não nos torna condutores de que os mesmos se satisfaçam, quando muitas vezes são de natureza sexual… No período da infância e da educação, que acontece por volta de sete anos de idade, geralmente estamos na escola, e vivemos a latência, onde até cerca de doze anos nos dedicamos mais aos estudos, meio que em uma fase do desenvolvimento psíquico onde os impulsos sexuais se tornam mais “tranquilos”. Quando por vezes nos defrontamos novamente com fortes impulsos, já na fase púbere, onde a transformação hormonal e biológica causa verdadeira revolução no ser humano, é recorrente que muitas inquietações ou mesmo a ausência de parceiros ou parceiras sexuais nos faça sublimar o fator relevante que nos levaria a uma frustração existencial, a uma angústia, pois há nos casos dos artistas um grande impulso criador que leva a uma excepcional mudança de foco, um tipo de substituição dos impulsos primitivos, dessa pulsão que acomete, mesmo em tenra idade, quando o estudo da arte, sua prática, a sua elaboração, se torna algo tão ou muitas vezes mais importante do que o ato sexual em si, e recorrentemente, paliativo concreto que ajuda a manter um estado psíquico mais estável, mesmo quando o sujeito é acometido de males mentais como até mesmo graves psicoses, ou transtornos de quaisquer naturezas. A “canalização” da libido para a arte é a forma talvez mais simbólica de sublimação da psique humana, como vemos em grandes artistas da história, donde sabemos que alcançavam na arte a razão mais evidente de realização plena de uma atividade onde o saber poético, ou mesmo as belas artes eram a manifestação mais pura de suas existências, enquanto homens e mulheres do seu tempo.

       Quando uma Drag Queen, por exemplo, se veste com o objetivo de fazer uma performance, na maior parte das vezes não possui crises de identidade de gênero, mas efetivamente o faz por meio do prazer em estar vestindo uma roupa do sexo oposto, e ser uma artista nesse sentido, por ser alguém que não possua problemas quaisquer de sexualidade, mas apenas tem o desejo de praticar um tipo de teatro onde um público admire a citada performance. No caso da solidão decorrente do que seria um recalque dos impulsos sexuais não resolvidos de outra forma, onde se busca por vezes um hedonismo tão forte que acaba por gerar inquietações ou mesmo a não aceitação por vezes sintomática de seu próprio corpo, ou mesmo a competição dos sexos, quando na natureza homossexual, onde as mulheres buscam “seduzir” aquelas que porventura estejam com carências com relação aos homens, que muitas vezes não sabem ou não conhecem mais profundamente a natureza da sexualidade feminina e suas demandas e diferenças de ritmos, será por vezes naquele anônimo artista que estiver alheio a certas contradições espirituais e de natureza hedonista que estará acontecendo um tipo de gênese de um ser dedicado à sua arte um tipo de alienação saudável que o transporta a um prazer que só a sublimação leva adiante, o que torna a solidão de não se ter uma parceira imediata, algo que não lhe confere maiores ruídos em seu ser.

       Naquilo que venha para agregar, o anímico ou espiritualidade do fazer artístico se vê na obra de grandes mestres da pintura e da escultura, como em Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, e mais recentemente em Van Gogh, este último portador de males mentais severos, mas com uma obra além de seu tempo e considerado como um dos maiores gênios da pintura expressionista… Miguel Ângelo, por exemplo, dedicou toda a sua arte para a sacralidade, tanto que quase ficou cego com os pigmentos que lhe caíam sobre a face enquanto pintava os afrescos da Capela Sistina, servindo à Igreja de modo a sublimar, através de uma obra extremamente hábil e grandiosa, toda uma questão onde a mesma arte seria o seu modo de ser, sem estar minimamente preocupado em estar fazendo sexo com alguém ou estar se envolvendo com outra coisa que não fosse pela sua arte. O mesmo de se dizer de Leonardo, que muitos historiadores afirmam que seria homossexual simplesmente por ser excêntrico e se vestir com roupas coloridas, mas certamente outro exemplo de artista que sublima na sua arte todas essas questões para ele, tal a dimensão de sua obra, muitas vezes em peças inacabadas, mas em diversas áreas da ciência igualmente, um pesquisador da Natureza, que certamente não tinha muito tempo para elucubrações de ordem amorosa…

       Freud afirma que muitas vezes a fase anal da criança em brincar com as próprias fezes faria com que aquele artista que manipula as tintas estaria em uma fase lúdica parecida, na própria sublimação de fixação daquela fase, tornando normal e peremptória a razão que justifica a sexualidade infantil como algo plausível e uma narrativa científica sobre questões que não podemos ignorar como pensamento inegável de extrema lucidez, crendo que até mesmo Freud sublimava quiçá muitos de seus impulsos com um exaustivo trabalho que desenvolvera ao longo de sua vida, mesmo que saibamos que tenha tido uma família e tudo o que se predisponha na sociedade a ser considerado de uma normalidade aceite.

       Porquanto o artista faz brotar, muitas vezes, uma realidade onírica de seu inconsciente, não apenas sublima os impulsos mais atávicos do id, bem como traduz no significado de sua obra a consecução ou tradução na forma de poesia, pintura ou outras manifestações o surgimento do psiquismo mais oculto, e a - por vezes - cura de muitas enfermidades graves...

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