O afeto não é moeda de troca, posto ser algo como intrinsecamente subjetivo, algo como um pouco de sonho, afeito a coisas que vão além do imaginar, posto concreto igualmente e perceptível nas coisas da Natureza, no entorno, no contexto. É um universo, é como o pouso de uma andorinha, o rumor de um beijo secreto, ao seu diálogo do beijo, o segredo mesmo que destrói algumas certezas, a comunicação intangível da carne, o silencioso modal espiritual, e o cerne que une, a concretude do gesto casual, ou a ternura de se doar, por isso não é nunca valor, moeda, ou substância cambiante, sendo algo direto e sonante, por vezes mais ruidoso, por vezes suave, como um clima ou estação, como a frieza ou a toada do verão, algo que cristaliza e dissolve, algo maior do que o próprio tempo…
A argumentação intelectual serve para ser um caminho orientador, de se convencer quando de razão primeva, primeira, cognoscível, aprendizado, escola e trilha serena no entardecer do que antes não conhecíamos sequer a menor possibilidade de saber sobre algo que passamos a saber no nível do conhecimento transparente, e não na forma da ilusão ou do chiste, pois o que passamos a ser se torna a estrutura mais crível de realidade, por isso o afeto se torna um lago de ternura onde o remanso e o apoio que recebemos de alguém ou algo, não seja um objeto, pois espiritualmente a Natureza é a mãe que nos dá o suporte, onde a raiz que alimenta a folha leva um instrumento do amor para que a seiva chegue até as folhas mais distantes.
O diálogo permanente do prazer que obtemos com a supracitada ternura, nos faz sermos mais transformadores, em que pese o alimento do antes, a predisposição dos caminhos, o não compulsório relaxamento, o vértice de uma emoção e a descoberta de que somos quase infinitos no mesmo gesto em que geramos o carinho na sintaxe e seus vocabulários, experimentando o acalanto de uma vereda que a nós nos parecia apenas uma sombra das possibilidades, o que torna a libido a consubstanciação do mesmo ato amoroso da entrega em agirmos, no sentido do dinamismo de tomarmos a iniciativa e redescobrirmos nosso corpo a uma só questão, sendo que o conhecimento de nossa sensibilidade é assaz importante, posto linguagem onde a mesma sintaxe e o mesmo vocabulário tange melhor o que antes era razão e se transforma no gesto descrito, no afago de nós mesmos e na coparticipação do outro.
O valor passa a ser tangível, passa a ser concreto, remissão de traumas e passatempo indiscutível de uma tomada de consciência de que nossos meios de compreender a realidade falarão mais a Eros, e toda a forma de auscultar algum veneno adjacente se torna mera sombra, no diálogo permanente de dois, ao toque singelo, ao toque de um/a ao/à outro/a, de sabermos gerir o mesmo valor e obter os lucros que sói serem permanentes, e dão continuidade no encontro, na questão do mínimo, no olhar permanente, no que nos lembramos do olhar, da memória consciente, e do trabalho que gere a predisposição do mesmo afeto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário