sábado, 13 de abril de 2024

A TESE


               Cláudia Andy era uma mulher estudante esforçada, gostava de fazer de tudo, uma verdadeira multimídia, uma mulher, nova ainda, com pouco mais de vinte, na faculdade e estava se preparando para a tese que – pensava – iria mudar a sua vida, e principalmente lhe render muitos benefícios financeiros... O objeto de sua tese, um homem que conhecia por terem lhe dado a dica de usá-lo como experimento. Uma coisa divertida para ela, sempre gostara de aventurar-se com os homens, e utilizar um como um objeto de estudo seria agregador e consubstanciaria a atitude dela de experimentar algo novo, um estudo acadêmico sem fronteiras, algo como um grande e mais longo evento do que aqueles que já estava acostumada até então, com seus atributos algo sapecas de menina mulher precoce de inteligência escolhida a dedo por criteriosa orientadora no escopo da Universidade-laboratório em questão, aos moldes quase mengelianos, no bom termo da questão, bem entendido, que não seriam bem experiências genéticas, a não ser que a medicina fornecesse a ela os subsídios necessários, pois o estudo era sobre o capacitismo, a exclusão e a inclusão do ser na sociedade e tudo o que isso implica, mesmo nesse contexto paradoxal onde ela seria a maior agente de um capacitismo às avessas, se utilizando de um homem para experimentar a magia da tese: tão sonhada...

               A que não partisse propriamente de si mesma, seus enigmas mais secretos talvez não conviessem no quesito particular de ser quiçá sensível e humana, e vez ou outra poderia se apaixonar por alguém... Mas jamais, na orientação da fria e calculista germana orientadora da tese, pelo objeto do estudo, pois devia considera-lo um ser com defeito tremendo, um ser quebrado, isolado do mundo, um nulo, um merda, merecedor de ser essa cobaia anônima a que iria ser submetido, sem testes, sem cadastro, apenas através da captura de dados, de sua memória da história familiar, dos pareceres psiquiátricos, pois portava um transtorno, e de outras facetas que iriam se apresentar conforme a investigação paulatina a que ela daria cabo sobre a vida desse homem, tão afeito a ser humano, que para ela se tornava quase “divertida” a empreitada com esses loucos que insistem em serem bons, em serem humanos, repetindo a questão. Jamais, pensava ela, seria citado o nome desse elemento, dessa peça da engrenagem, como o “selvagem” de Huxley, ela tornaria seu o seu Admirável Mundo Novo, ou Ovo, nos diagramas de Eli Heil.

               Cláudia Andy preferia ser chamada de didinha, nome carinhoso quando um dos seus amantes lhe presenteara com o pênis na primeira relação anal a ela consagrada, depois de uma sessão de drogas que a sua orientadora lhe patrocinara para experimentar, vindas diretamente da “farmácia” da Universidade-laboratório. Na questão principal de seu esfíncter, aprendera nas sessões de artes cênicas a respiração aliada com movimentos perineais, a bacia como um todo, a região do glúteo, e toda a conformação bioenergética da transformação do prazer em algo que a dignava ser considerada uma alfa de verdade, totalmente inclusiva, totalmente total, conforme a música de Caetano, o Veloso...

               A abordagem inicial seria integrativa colaboracionista, ou seja, relevava o fato de que ela se sustentaria como uma mulher com mais acesso do que as outras, e lhe daria mais carinho, de forma homeopática no entanto, do que o objetificado poderia sequer imaginar, qual a aplicação de uma rotina de uma programação em OOP – programação voltada para os objetos –, com os enigmas de classes, funções, loops, e outros detalhes, sendo o behavior o mais importante, utilizado tanto pelos diagramas da CIA como nos atributos da SS. No caso, fora de padrões mais afeitos a profundidades, portanto, como que experimentalmente no escopo regional e nacional como experimentação com cobaias, a aplicação do software comportamental seria utilizado nas modalidades nazi-fascistas.

               A questão toda seria compatibilizar essa programação em tempo hábil, e a dita agente, pois se tornara uma das mais hábeis, deveria dar conta do recado em curto tempo e reprogramar a função a ela atribuída para a tarefa que a orientadora urgia ter em mãos para a sedimentação do escopo do “experimento”...

               No entanto, houve um erro crasso, ela falhou e chorou amargamente as dores de se apaixonar por esse homem, pois era dentro de si mesma tudo o que a sua programação anterior antecipatória não previra, e desse vocábulo único e impermanente naquilo que possuía como alma, não teria mais como segurar a onda, pois errara demonstrando ter o sentimento que porventura não pediria mais a Deus possuir, pois finalmente descobria pouco a pouco o significado dessa palavra, e nem as suas pantomimas anteriores de tentar imitar a Krsna dariam certo, e depois que o poeta louco revelou a essa mulher o diafragma que ela esquecera de estudar dentro da sua pretensa respiração retal, acabou por se convencer de abandonar o projeto e partir para prosseguir com suas carreiras de eventos, e se tornou uma talentosa mulher de negócios.

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