domingo, 20 de novembro de 2022

SOBRE O BAIXO CUSTO NAS ÁREAS VULNERÁVEIS

 

            Amalgamar circunstâncias de viés produtivo é questão de alicerçar premissas não de ordem prática, mas do próprio significado de suas substâncias, procedimentos, a arte, a cultura ou idiossincrasia, para não se utilizar jargões iconoclastas do passado, mas que remonte a construção do saber. A questão vai além da produção nas modalidades do mundo contemporâneo, senso essencial a área da segurança como setores que tentacular e inteligentemente suportem a fluidez necessária para o andamento, e talvez essa seja a questão a se elucidar antes mesmo de se passar a mão na obra, na consecução do que se deva fazer para implementar melhores condições e garantir acesso e permanência em trabalho, segurança alimentar, creches seguras e inteligência cabal, não importando a modalidade, pois o que está em jogo é justamente não jogar na crendice ou circunspecção dos vieses onde se realizam trabalhos de ordem e natureza, por vezes distintos, mas sempre se possível necessariamente complementares... Esse retorno a uma consciência dos fatos práticos e relevantes não compulsoriamente revelarão que, em uma única etapa se possa consolidar um trabalho realmente progressivo, pois quando a região é extremamente pauperizada não é tarefa fácil realizar a contento a missão de se buscar um resultado no que se espera de fruto, mas se for sincera alguma ponta do esforço já criará laços de entronizar quiçá algum serviço ou outro que possivelmente, dentro de possibilidades cabais, são factíveis de progressos futuros, em outras etapas, assim, sucessivamente, dentro do contexto da lei do esforço compensatório, que seria ver uma planta brotar, quando esta brota por vezes na aridez, como no semiárido nordestino a coisa é um pouco similar, se valer a metáfora e o trabalho é diuturnamente árduo para se recriar a lavoura. Mas que com essa assertiva não se crie uma expectativa de que se esteja aventurando por questões preferenciais, mas apenas que, porquanto um país como o nosso emerge questões superlativas de pauperização crônicas, é mister fazer cirurgicamente ou pontualmente trabalhos, mesmo em tentativas, mesmo em etapas quiçá no começo emergenciais, para sanar problemas maiores e mais de premência do básico em si.
            Há que tecer em paralelo diversas ações, mas a ingerência do que se trata no contexto deste humilde excerto é como realizar algo, independente de ações como serviços ambulatoriais ou bélicos essenciais, com poucos recursos, focando em possibilidades de que sejamos independentes na questão da produtividade e oportunidade de se mover engrenagens adormecidas em seios sociais há muito no ostracismo, utilizando-se para isso do voluntariado como mola motriz que permita a mescla maravilhosa do encontro entre diversos níveis do extrato social como um todo, e seu paulatino aprendizado, com dinâmim confere cores que se tornam mais harmônicas em processos de finalização, apesar de às vezes parecer que a pintura se tornou um borrão em uma jornada de um dia, semana, mês ou mesmo ano. Mas o importante é que se utilizem as ferramentas necessárias: se um letrista aprende, sendo analfabeto, a pintar a letra A ou a, ou que seja, a princípio na letra de forma - maiúscula ou minúscula -, mais pragmática, estará aprendendo a ler e a escrever, e motivado por um resultado em que a manufatura depreende a gratidão em se conhecer não apenas o signo, mas a semântica e a prática do trabalho, vinculado à esperança de possuir a vertente de receber seu pago no futuro por estudo e esforço, no conceito supra citado de “esforço compensatório”. Por similaridade de desenho gráfico, ele inverte o A e desenha o V, suprimindo a haste horizontal e agregando mais repertório grafológico: para isso por vezes da padronização simplista das maiúsculas no início, sem a preocupação de ordens estéticas. Com mais um ele – L – já possui a palavra LAVA, e possui o significado semântico de procurar ao menos essa primeira palavra em um smartphone, com a orientação de alguém que não precisa ser professor ou ter a graduação para tal, mas que, tal qual na troca de um bastão, assume a tarefa de ensinar e suprimir a dificuldade e alentar para a luz do display, motivando mais e mais, e abrindo a outra, além de muitas, portas para que se consiga a luz necessária para o andamento da “engrenagem reflexa”, posto indiretamente apreender o significado do verbo lavar e do substantivo lava. Se esse aprendiz das letras redescobrir em tijolos que porventura saiba assentar, pode brincar com essas três letras em tijolos e montar suas equações, com palavras recriadas na estrutura ainda incipiente de seu vocabulário, mas que se torna universal no ato, e esse ato pontual em um indivíduo se espelhará no coletivo de seus amigos e familiares, no muro, em uma letra em um pequeno cartazete de ofício e, com a prática dos materiais, a obra de arte de uma letra ou palavra... Do esforço compensatório, passa ao ato recompensado, ou arguição de que encontrou uma saída existencial para além da necessidade de construir seus conceitos dentro da esfera restringida por um pensamento estanque, onde o homem chega a crer que muitos se ajudariam, mas através de pequenas cartilhas de letras e como se chega lá a pintar e ser letrista o movimento da mão empunhará sua sabedoria para além da estimativa mesma das pretensões existenciais, levando o ser a uma dimensão de espaço onde a redescoberta se dê não na condição preliminar, mas no ato em si, na prática cotidiana e aí sim, com diálogos profundos com a matéria e o conhecimento.

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