Achei interessante a abordagem do terapeuta sobre o caso do paciente preocupado com o seu trabalho, o ingresso como empresário, essa “vida nova” e, no entanto, insuflada para ele por medos, onde na fala essa palavra foi recorrente, e o modo como Pedro elucida a questão do discurso que está por trás de um simples questionamento lógico por parte do analista, onde qualquer interferência desatenta em uma pergunta ou direcionamento pode vir a ser um erro na condição da análise. Por exemplo, quando ele pergunta ou afirma que agora C. é a empresa, e o paciente ri, talvez sardonicamente, quiçá negando ser a própria empresa, pois justamente não está seguro quanto a sua condição de empresário, haja vista afirmar que não está crescendo junto com o empreendimento como gostaria... “Não desejar ter algo que desejaria ter”, porventura, talvez ilustrasse bem a situação, entre ser o funcionário público com o bônus do salário garantido, ou o empresário com o ônus de ser obrigado a trabalhar duramente para ganhar o sustento, isso poderia parecer simplista, mas creio que além dessa semântica ou racionalização há algo mais profundo, quiçá relações familiares, ou mesmo profundas contradições em que a posição afirmativa do sujeito em que está ou se diz satisfeito encontra o viés de sua própria negação.
Em
síntese talvez o princípio do prazer no caso de C. e seus riscos, encontre no
princípio de realidade da segurança do emprego público algo que o coloca em um
dilema existencial profundo, como se as engrenagens não funcionassem, e talvez
visse a sua coach, como uma possível
chefe da qual não gostaria de receber orientações, pois talvez se sentisse do
outro lado, regredindo para a vida de funcionário, onde porventura não encontra
a menor possibilidade de “ajudar outras pessoas”, que vem a dar em uma outra contradição
em seu discurso. A associação livre nos permite esmiuçar a natureza expressiva
das palavras, sua sintaxe, seus chistes, e tudo o que nos guie para manter
acesa a chama da descoberta do imo mais profundo do ser humano, mesmo em
assuntos que aparentemente não denotem aparentemente maior complexidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário