terça-feira, 1 de abril de 2025

SOBRE UMA ABORDAGEM TERAPÊUTICA


                Achei interessante a abordagem do terapeuta sobre o caso do paciente preocupado com o seu trabalho, o ingresso como empresário, essa “vida nova” e, no entanto, insuflada para ele por medos, onde na fala essa palavra foi recorrente, e o modo como Pedro elucida a questão do discurso que está por trás de um simples questionamento lógico por parte do analista, onde qualquer interferência desatenta em uma pergunta ou direcionamento pode vir a ser um erro na condição da análise. Por exemplo, quando ele pergunta ou afirma que agora C. é a empresa, e o paciente ri, talvez sardonicamente, quiçá negando ser a própria empresa, pois justamente não está seguro quanto a sua condição de empresário, haja vista afirmar que não está crescendo junto com o empreendimento como gostaria... “Não desejar ter algo que desejaria ter”, porventura, talvez ilustrasse bem a situação, entre ser o funcionário público com o bônus do salário garantido, ou o empresário com o ônus de ser obrigado a trabalhar duramente para ganhar o sustento, isso poderia parecer simplista, mas creio que além dessa semântica ou racionalização há algo mais profundo, quiçá relações familiares, ou mesmo profundas contradições em que a posição afirmativa do sujeito em que está ou se diz satisfeito encontra o viés de sua própria negação.

                Em síntese talvez o princípio do prazer no caso de C. e seus riscos, encontre no princípio de realidade da segurança do emprego público algo que o coloca em um dilema existencial profundo, como se as engrenagens não funcionassem, e talvez visse a sua coach, como uma possível chefe da qual não gostaria de receber orientações, pois talvez se sentisse do outro lado, regredindo para a vida de funcionário, onde porventura não encontra a menor possibilidade de “ajudar outras pessoas”, que vem a dar em uma outra contradição em seu discurso. A associação livre nos permite esmiuçar a natureza expressiva das palavras, sua sintaxe, seus chistes, e tudo o que nos guie para manter acesa a chama da descoberta do imo mais profundo do ser humano, mesmo em assuntos que aparentemente não denotem aparentemente maior complexidade.

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