Não que
na verdade não sonhássemos por coisas melhores no mundo, mas no mundo da psique
os sonhos não são da vontade, somos abraçados por eles, e por vezes sequer ou
aparentemente temos sonhado, quiçá por anuência de algum tipo de medicamento, quiçá
o conhecimento biomolecular seja hoje uma esfera do conhecimento que retorna as
luzes da ciência ao escopo da realidade, em seus princípios mais elementares,
tornando o princípio de prazer algo que venha a dar o estofo quando alcançamos
o insight de estarmos conhecendo mais e mais sobre essa montanha submersa que
se chama inconsciente, qual imenso iceberg onde o nosso navio não pode atracar,
em um si mesmo em que não possuímos sequer a consciência cabal desse fato...
Falar
sobre isso sem pestanejar seria como escrever à la James Joyce no seu “Ulisses”,
como deflagrar uma guerra interna de palavras, como esboçar uma carência
afetiva, como estar se postando na vida como um quixotesco cavaleiro, sem ter
ao menos por vezes a chance de tergiversar com Sancho Pança, que faria as vezes
de um bom analista ou confidente de nossos sentires mais secretos. Essa rocha
em oceanos de trasbordos, muitas vezes de desditas, não seria algo maior do que
o mesmo tempo em que um terapeuta estaria recolhendo, garimpando as pepitas dentro
do universo perdido nas entranhas do oceano? Essa inquietação um estudante de
psicanálise deve carregar e deve buscar sempre, ao compasso mesmo da dúvida, ao
setor de entregas da fala livre, e que supostamente uma mulher fale mais ao
companheiro de suas indignações perante muitas coisas e dos erros do mesmo
companheiro, posto em um casal podemos ter analista e analisando, mesmo que
para isso fôramos compulsoriamente mais horizontais no trato, e mais médicos no
suposto viés da equanimidade e da transparência existencial.
No jargão
infantil, por vezes a existência do iceberg, quando finalmente a criança
aprende sobre isso, tem ou adquire o conhecimento do que vem a ser uma montanha
de gelo onde sua maior parte está submersa, ainda talvez não veja a metáfora
que encerra essa questão, mas o conceito estará plantado para que, depois de
algum tempo vai utilizar esse mesmo conceito para algo, no que esse rochedo
imenso de gelo, e sua parte oculta virá na forma do imaginário, talvez no filme
Titanic, como ocorreu o desastre, e o que vem a ser a força da natureza, suas
montanhas, seus modos quase selvagens, como na forma em que o gelo rasgara o
casco de aço de um navio como o citado, sem que isso não fosse tão fácil quando
romper um pequeno pedaço de papel. Do mesmo modo, talvez quando alguém teça um
contato com a natureza da psique humana tenha condições de mensurar a
importância do que seja a dimensão do inconsciente, do superego, e mesmo da
parte submersa do ego, mesmo sabendo-se que este intermedia e faz a interlocução
praticamente diplomática entre os conteúdos mais primários do id, e o
balizamento do superego, seu arcabouço de controle, fazendo um necessário
equilíbrio entre essas questões, e tudo tão maravilhoso que faz parte da mente
humana, e mais, uma descoberta de um homem chamado Freud, ou seja, um senhor
médico que abre espaço para uma descoberta tão revolucionária para a ciência
que muitos hoje certamente tem verdadeira paixão pela área acadêmica em
questão.
No viés
do entendimento desses tipos de estudos, abrem-se as frentes para um
conhecimento praticamente médico, um conhecimento que vai além das fronteiras
mesmas da medicina e sua alopatia, posto dinâmico e progressivo no sentido de
tentar erradicar ou tratar melhor as neuroses, e creem talvez próceres mais
iluminados sob essa ótica que sói melhorarem enormemente as questões de patologias
mais graves como a psicose ou a esquizofrenia, por enquanto com a questão medicamentosa,
o que também é uma grande conquista da medicina, pois as drogas psiquiátricas
evoluem na medida em que as pesquisas trazem resultados cada vez melhores e
mais amplos nesse sentido.
Quiçá
para a saúde mental a vida não seria a mesma se Freud não tivesse existido, e
todos os seus estudos, toda a sua prática clínica, e certamente não seria a
mesma... Do que temos visto, a conquista inerente ao combate das dependências químicas
das drogas e do álcool, as clínicas de recuperação, as conquistas de uma
medicina mais acessível no controle e na desintoxicação, o surgimento de novas
modalidades terapêuticas, tem tornado o acesso ao grande iceberg de nós mesmos
uma problemática social recorrente, como se outros icebergs fizessem parte do
panorama social, onde muitas vezes o desemprego, a desesperança, o desencontro
afetivo, a solidão, levam as gentes a terem crises existenciais profundas, e
essa frustração demonstra objetivamente o surgimento de mais e mais sintomas
psicossociais na esfera social, coletiva ou individualmente, e a prática da
medicina nesse campo se torna mais e mais necessária, posto será tratando o
problema, muitas vezes nas suas raízes e de forma preventiva que os seres
humanos como um todo tendem a encontrar maiores ressonâncias da normalidade,
quando a questão do oculto se torna reveladora e desfaz traumas recorrentes,
sob a batuta de um bom clínico na área.
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